Foram 459 solicitações em 2022, e número cresce pelo menos desde 2019; na segunda, quatro imigrantes foram resgatados no ES após 14 dias de viagem em leme de navio

No ano passado, 459 nigerianos solicitaram refúgio no Brasil, de acordo com o Observatório das Migrações Internacionais (OBmigra), que atua em uma parceria do governo federal com a Universidade de Brasília (UnB). O número é bem inferior ao de solicitantes de países como Venezuela (33.753), Cuba (5.484) ou Angola (3.418), mas supera o índice de solicitações de nigerianos em 2021 (246) em 86,5%. Também foi maior do que o registrado em 2020 (213) e 2019 (331).

A Polícia Federal resgatou na segunda-feira, no Espírito Santo, quatro nigerianos que viajaram por 14 dias escondidos no leme de um navio cargueiro. Nas duas semanas, eles permaneceram num compartimento de cerca de dois metros cúbicos apenas. Foram duas semanas sem banho e local para dormir, e com água e comida insuficientes. Os últimos três dias de viagem foram os mais dramáticos, porque já não havia mais nada para comer e beber. À noite, a temperatura caía a 10 graus, e a escuridão do pequeno local se somava ao risco de caíram no oceano a cada movimento da embarcação.

Fuga da violência e da fome

No ano passado, 27 nigerianos se alojaram na Casa do Migrante da Missão Paz, que engloba a Casa do Migrante e várias iniciativas de acolhimento e capacitação de refugiados no Centro de São Paulo.

Coordenador da Missão Paz, o padre Paolo Parise afirma que duas motivações se destacam entre os nigerianos que buscaram abrigo na casa:

— Alguns já eram deslocados internos na própria Nigéria, e depois conseguiram sair, em função do conflito com o (grupo extremista) Boko Haram. Outros, da região Nordeste do país, alegam ter saído por conta de uma crise de insegurança alimentar. Falta acesso a alimentos — afirma.

Segundo dados do Sismigra, o sistema de imigração da Polícia Federal, em março de 2022 havia 6.819 nigerianos vivendo no Brasil. São Paulo concentra a comunidade no país: 5.222 vivem no estado - e 4.164 residiam na capital paulista no mesmo período.

O Brasil não possui acordo de visto humanitário com a Nigéria, a exemplo do que acontece com os afegãos, desde a volta do grupo extremista Talibã ao poder. Ao chegar aqui, nigerianos que desejam solicitar refúgio devem seguir o protocolo de regularização migratória junto à Polícia Federal, e depois comprovar que cumpre os critérios para concessão da condição de refugiado junto ao Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), ligado ao Ministério da Justiça.

No caso dos nigerianos que chegaram ao Porto de Vitória, a intermediação está sendo feita por agentes da Polícia Federal. Até o momento, não há notícia de que pretendam solicitar refúgio no Brasil.


Fonte: O GLOBO