Na esteira dos juros altos, fechamento de lojas de vestuário, eletrodomésticos e artigos de uso pessoal frustram vendas ligadas ao Dia das Mães

O comércio brasileiro caiu em maio após nove meses de taxas positivas. As vendas do varejo restrito tiveram retração de 1% no mês, após avanço de 0,1% em abril, puxadas pela queda do setor supermercados - atividade de maior peso na pesquisa. Nem o Dia das Mães animou o setor: as vendas de vestuário, eletrodomésticos e artigos de uso pessoal e doméstico também caíram diante do fechamento de lojas de departamento em meio aos juros altos.

Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE
No ano, o comércio varejista registra alta de 1,3%
No acumulado nos últimos 12 meses, o setor acumula alta de de 0,8%

'Efeito rebote' no consumo de itens no supermercado

Se no mês de abril o setor de supermercados foi o responsável por manter o comércio varejista no campo positivo, esta atividade teve um efeito rebote em maio e puxou para baixo o desempenho do setor como um todo. O segmento de hiper e supermercados que recuou 3,2% após apresentar crescimento de 3,6% em abril.

Cristiano Santos, gerente da pesquisa, lembra que a atividade vem de uma aceleração em abril, em um fenômeno que serviu para estancar as quedas anteriores. Para o pesquisador, a conjuntura pressionou o consumidor a fazer opções, que acabaram se concentrando no consumo em hiper e supermercados em abril, o que mudou agora em maio.

— É uma espécie de rebote, onde a escolha do consumidor pareceu ser de consumir menos nessa área e consumir mais em outras atividades — complementa.

Redução de lojas de departamento mostram desaquecimento

Também houve queda do desempenho as atividades de tecidos, vestuário e calçados (-3,3%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,3%) e móveis e eletrodomésticos (-0,7%). Segundo Cristiano Santos, esses três setores têm sido afetados pela redução de lojas físicas de grandes cadeias. Nem o Dia das Mães, data que costuma aquecer o comércio em maio, conseguiu reverter o efeito.

Já entre as altas, o destaque foi o setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, com de 2,3% em maio.

— Embora venham de sucessivos crescimentos, as vendas nessa atividade aceleraram no mês, provavelmente impactadas pelo dia das mães — explica Santos. As demais três atividades que apresentaram taxas positivas no mês foram livros, jornais, revistas e papelaria (1,7%), combustíveis e lubrificantes (1,4%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (1,1%).

No comércio varejista ampliado, que inclui veículos e material de construção, o volume de vendas também caiu em maio: -1,1%. A atividade de veículos e motos, partes e peças cresceu 2,1%, enquanto o setor de material de construção teve queda de 0,9%.

Perspectivas

A desaceleração da inflação têm reduzido incertezas na economia, o que facilita o interesse das famílias em adquirir produtos e serviços. Por outro lado, o cenário de juros elevados, além do alto nível de inadimplência presente no país, podem ser considerado entraves para uma trajetória mais benigna do comércio ao longo deste ano.

O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) do FGV IBRE subiu 6,9 pontos em junho para 94,2 pontos, ficando o maior valor desde outubro de 2022 (98 pontos). Ainda assim, o resultado é visto com cautela.

"É importante frisar que o caminho ainda é longo e que é fundamental a continuidade de melhora nas variáveis macroeconômicas”, avalia Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE.


Fonte: O GLOBO