Desfalques, lesões e contratempos podem ocorrer, mas atuações como a contra o Vasco explicam o primeiro lugar do alvinegro

Assim como nenhum time é campeão brasileiro na 13ª rodada, é também precipitado afirmar que a vitória do Botafogo sobre o Vasco, apesar do imenso domínio e da autoridade com que controlou o rival, já permitem decretar que o alvinegro não sentirá os efeitos da saída de Luís Castro.

Ocorre que este time lida com interrogações desde que iniciou sua arrancada na competição. Primeiro, sobre sua capacidade de sustentar a liderança por muitas rodadas. Depois, se resistiria ao duelo com o Palmeiras, fora de casa. E, por último, sobre a perda do treinador. A todas elas, o Botafogo respondeu com contundência. Vale lembrar, seus perseguidores também têm suas incertezas.

O vice-líder Grêmio, por exemplo, tem convivido com dúvidas sobre as condições físicas de Suárez. Ainda que ele siga jogando de forma magistral, o clube não esconde que o problema no joelho o fez cogitar interromper a carreira.

O Flamengo cresce, mas ainda tem uma saída de bola instável e uma defesa por vezes exposta. Agora, parte para ações pesadas no mercado e, claro, tem uma tendência de crescimento. Mas ele acontecerá a tempo de brigar pelo título?

O Atlético-MG, cujas atuações recentes são assustadoras, vive uma difícil transição entre Eduardo Coudet e Felipão. São dois treinadores de modelos de jogo muito diferente e o início de trabalho de Scolari tem sido dificílimo.

Enquanto isso, o Palmeiras vem de uma sequência sem vitórias que não é tão comum. No 2 a 2 com o Athletico, poupou quase todos os titulares, algo raro. Desfalques e desgastes de titulares tem tornado a caminhada mais acidentada para um time ainda bastante sólido. Enquanto o Fluminense vive uma grave queda de rendimento.

O fato é que o Botafogo lidera uma Série A apontada como a mais difícil dos últimos tempos, pelo peso das camisas e pelo nível dos rivais. É um mérito imenso. Já abriu sete pontos do Grêmio, oito do Flamengo, dez do Palmeiras e 13 do Atlético-MG, só para citar alguns dos times tidos como favoritos.

E o clássico de domingo, o primeiro jogo sem Luís Castro, mostrou um time senhor do campo, com claríssimas convicções sobre sua forma de jogar. Se é natural ter cautela sobre o futuro, afinal cada time deste Campeonato Brasileiro tem suas interrogações, é fato que este Botafogo tem muitas certezas.

Uma delas, sobre seu estilo. É um time de ataques rápidos, capaz de contragolpear ou de construir em poucos toques, em combinações feitas em ritmo altíssimo. O Botafogo, além de fortíssimo fisicamente, atingiu tal nível de confiança e funcionamento que cria a sensação de que, de olhos fechados, os jogadores acertariam passes: todos se acham com facilidade.

E, por fim, não há certeza maior neste time do que Tiquinho Soares. Ele não é um finalizador, apenas: é um sistema ofensivo num só homem. Seu jogo de costas permite preparar jogadas para que Eduardo, Tchê Tchê ou os pontas joguem de frente para o gol, progredindo com a bola. Seus movimentos geram espaços que ele próprio aproveita. 

No lance em que quase marcou de bicicleta, Tiquinho recebe a bola na intermediária após um arremesso lateral e permite o avanço de Júnior Santos. Instantes depois, está atacando na área para finalizar no espaço que ele mesmo gerou ao recuar. O mesmo ocorre no primeiro gol: ele apara a bola para Eduardo na origem da jogada, depois atravessa o campo para tabelar com Luis Henrique e dar o passe no corredor aberto na defesa do Vasco. Tem uma compreensão rara do jogo.

Claro que desfalques, lesões e contratempos podem ocorrer. Mas atuações como a deste domingo explicam por que o Botafogo é o líder do Campeonato Brasileiro.

Grave

Auxiliar de Abel Ferreira, João Martins tinha razão ao reclamar da arbitragem em Curitiba. A cotovelada de Zé Ivaldo em Endrick foi clara. Mas ao dizer que o “sistema” não quer o Palmeiras campeão, que “não deixam” o melhor ganhar, ele foi deselegante e levantou graves suspeitas. Preferiu desqualificar o campeonato porque o resultado do jogo não o favoreceu. A CBF deve fazê-lo provar o que disse. Além de zelar por uma arbitragem melhor.

Melhorou

Especialmente quando teve a bola, o Flamengo voltou a mostrar progressos sob o comando de Sampaoli. Venceu um bom Fortaleza no Maracanã, num jogo em que também exibiu maior capacidade de pressionar o rival. Ainda assim, a saída de bola rubro-negra ainda mostra problemas. Ao recorrer a bolas longas, expõe uma defesa que, por vezes, vê os dois laterais avançarem juntos. Ainda há margem para crescer.

Piorou

Não se trata de dizer que o Fluminense descartou sua identidade e seu modelo de jogo na péssima atuação que teve no Morumbi. O assustador foi ver o tricolor tentar, sem conseguir, praticar o que sempre fez de melhor: construir circuitos de passes. Se antes o time gostava de ser pressionado, porque saía jogando e descobria espaços, o Fluminense tem se visto em sérias dificuldades quando é marcado desde os primeiros passes.


Fonte: O GLOBO