Bruno Teixeira estava acostumado a correr distância curtas, mas foi desafiado de última hora a percorrer 42 km

A morte de Bruno da Silva Teixeira, de 26 anos, após sofrer uma parada cardíaca durante uma maratona organizada pelo coach Pablo Marçal é investigada pela Polícia Civil de São Paulo, que registrou o caso como "morte suspeita". Ele havia partido para correr 42 km no dia 5 de junho em um desafio proposto de última hora.

Teixeira e colegas que trabalham na XGrow - empresa criada por Marçal e comandada por um sócio, desde que o coach decidiu ser candidato a presidente, no ano passado - souberam na hora que o desafio havia dobrado de 21 km para 42 km. Teixeira passou mal no 15° km da corrida, por volta das 22h. Marçal não estava no grupo. O caso foi revelado pelo UOL e confirmado pelo GLOBO.

No entanto, o desafio repentino de correr uma maratona foi dado dias após Marçal ter feito um vídeo no qual dizia ter completado uma corrida de 42 km. Na publicação, ele se gabava do feito e dizia: "Minha mãe não é mãe de fraco. Meu pai não é pai de otário. Minha vó não é vó de trouxa".

Em um vídeo publicado nas redes sociais pouco antes da corrida, Teixeira revela que a mudança da distância da prova havia sido alterada sem o conhecimento dos corredores. "Aonde eu fui me enfiar? Esse é o problema de andar com gente de frequência alta", afirmou.

— Vocês com desculpas aí para fazer os treinos, para fazer acontecer. Marcelo está dando aula da mentoria enquanto está correndo. Duas coisas ao mesmo tempo — disse Teixeira.

Teixeira começou a trabalhar em dezembro do ano passado para uma das empresas da holding de Marçal. Elas ficam todas sediadas em um mesmo prédio, que pertence ao coach, em Alphaville. Foi deste edifício que o jovem partiu para a corrida em grupo.

— A corrida foi organizada dentro da empresa para funcionários. Eles decidem no dia cedo: 'Á noite vamos fazer uma corrida'. Não existe preparação, não existe exame, nada. Só dizem que à noite vão fazer corrida. Tanto que não sabiam se seria 21 ou 42 km. Aí foi decidido que iriam fazer maratona, 42 km — disse Clara Serbim, melhor amiga de Teixeira, em entrevista ao GLOBO.

Clara contou que Teixeira chegou a ser alertado pelo próprio irmão no dia da corrida. "Tenha cuidado, isso dá problema no coração, precisa fazer exame", teria dito o familiar da vítima. Mas Teixeira respondeu: "Ah não, a gente vai devagar, só trotando".

'Fatalidade', diz advogado de Marçal

O advogado Tasso Renam Souza Botelho, representante de Marçal, disse ao GLOBO que seu cliente não se manifestou publicamente para não expor a família. O defensor também alegou que a maratona não foi proposta pela empresa, mas apenas "um treino entre amigos e veio a desaguar nessa fatalidade".

— Não se trata de uma maratona nem de uma corrida ligada a empresa. Foi um treino desenvolvido por algumas pessoas, algumas são funcionárias que compõem o grupo empresarial e outras, não. Algumas passaram lá para deixar os carros porque o ponto de encontro do treino era um posto de gasolina próximo — afirmou Botelho.

Segundo Botelho, que também participava do treino, Teixeira estava correndo quando sentiu uma dor no peito. Abaixou-se e recebeu os primeiros socorros de colegas, que decidiram levá-lo de carro até o hospital Albert Einstein, de Alphaville. O advogado diz ter pagado do próprio bolso os custos de R$ 9 mil da internação do jovem na unidade de saúde.

— Bruno era um querido da empresa. Foi uma perda inesperada. Estamos todos sofrendo com a perda. Não houve exame prévio porque é um treino comum. Se você for correr a São Silvestre, não vão te pedir exame. Vão te pedir para assinar um termo. Não há necessidade legal de se ter exame prévio para fazer corrida. O que aconteceu foi uma fatalidade — disse ele.

Botelho disse ainda que Teixeira era prestador de serviços em uma das empresas que são sediadas no Complexo, que pertence a Pablo Marçal.

— Pablo não tem mais participação societária na empresa em que o Bruno trabalhava. Ele vendeu a participação dele na época das eleições — acrescentou o advogado.

A Secretaria de Segurança de São Paulo afirmou que a ocorrência foi registrada como morte suspeita no plantão da Delegacia de Barueri e encaminhada ao 2º Distrito Policial da cidade, que passou a investigar o caso. "Exames foram solicitados ao Instituto Médico Legal (IML) e estão em elaboração para auxiliar no esclarecimento da causa da morte", diz a nota.

Outro lado

A assessoria de imprensa de Pablo Marçal enviou uma nota ao GLOBO. Segue o comunicado:

1 - As pessoas que estavam no local da fatalidade chegaram a ligar para o SAMU, mas o serviço demorou fazendo perguntas e o carro de uma das pessoas que estava treinando estava mais próximo e levou a vítima para o hospital Albert Einstein, que fica muito próximo do local da fatalidade.

2- Ele foi vítima de um mal súbito e os presentes informaram que tudo aconteceu muito rápido. Ele chegou com pulso no hospital, pois foi feito massagem cardíaca no carro, e no hospital perdurou por mais 50 minutos aproximados.

3- Não era sua primeira vez em corridas de rua, praticava desde 2018 como está no seu Instagram, e nesse dia decidiu treinar de última hora. Inclusive, falou com um parente que o alertou de não participar desse tipo de treino antes de fazer exames. Descobrimos isso depois do ocorrido.

4- O ponto de encontro agendado entre os participantes era em um posto de gasolina que fica na rua onde ocorreu a fatalidade. No entanto, a maioria passou no prédio onde a empresa fica localizada para deixar seus veículos antes de seguir para o ponto de encontro, que era o posto, e lá acabaram pedindo instruções para os corredores mais experientes.

5- Era um treino espontâneo e amador, como muitos que acontecem todas as noites pelo Brasil, inclusive em no local do ocorrido onde se nota praticantes do esporte todos os dias ao anoitecer. Alguns se desafiaram a correr 42 km e outros se desafiaram a correr 10, 15, 21 km. A maioria chegou a correr entre 15 e 21 quilômetros.

Treinos não são estruturados. Cada um leva a sua água e suplementos de acordo com seus gostos.

Lamentamos essa fatalidade profundamente, pois todos estão sujeitos a uma fatalidade, mas ninguém espera.

Não houve manifestação prévia, pelo cuidado de não haver exposição da família e para não reviver uma dor tão difícil de suportar, o que infelizmente não foi possível, ja que certas pessoas se utilizaram dessa dor para outros fins.

Em todo tempo prestamos o suporte necessário a família e mais uma vez renovamos nossos sinceros sentimentos.


Fonte: O GLOBO