Movimento poderia reforçar o caixa para fazer frente a obrigações de curto prazo. Em assembleia, acionistas da companhia ratificam processo de recuperação judicial

O Grupo Light avalia vender ativos, o que pode significar passar adiante sua geradora de energia, para fazer caixa e cumprir obrigações de curto prazo, afirma uma fonte próxima à companhia. Ontem, reunidos em assembleia, os acionistas aprovaram por maioria a recuperação judicial da companhia. Ao todo, 94,5% dos participantes votaram a favor do processo, enquanto 1% votou contra. Houve 4,5% de abstenções.

A aprovação por ampla maioria, explica essa fonte, resulta de haver linhas mestras do plano de recuperação apontadas. “Quando é preciso fazer essa aprovação, significa que há venda de ativos prevista”, diz, frisando que, com poucos credores, o plano poderia ser aprovado antes do fim do ano. E, a depender da adesão dos credores, até sem assembleia.

Interesse no mercado

No mercado, a venda da geradora Light Energia é a mais comentada, sendo alvo de interesse de companhias como a Equatorial Energia.

— Esse tipo de análise de ativos no mercado é normal e recorrente, sobretudo por empresas grandes e consolidadoras como a Equatorial. Mas é um grupo muito alavancado. Não é viável para a Equatorial entrar na Light neste momento com dispêndio de dinheiro — avalia Ilan Arbetman, analista da Ativa Corretora.

Dias atrás, a Equatorial confirmou em comunicado que “tem avaliado os ativos do grupo Light dentro do processo natural de avaliação de oportunidades”, mas que não há negociação em curso.

Luís Felipe Salomão Filho, sócio do escritório Salomão, Kaiuca, Abrahão, Raposo e Cotta Advogados, um dos responsáveis pelo pedido de recuperação judicial do Grupo Light, diz que a companhia avalia vender ativos, mas não consegue especificar quais seriam eles.

— A assembleia de ontem foi fundamental porque ratifica que a administração da Light tem o aval dos acionistas, principalmente dos de referência. Estão alinhados a essa solução (da recuperação) que pode não ser a melhor, mas é a possível — diz o advogado.

Para ele, a frente jurídica está equalizada. Agora é avançar do lado comercial, nas tratativas com os principais credores para alcançar um mínimo de concordância para aprovar o plano de recuperação.

Chamar os credores à mesa — incluindo bancos com o Itaú e Bradesco, diz uma fonte — passa principalmente pelos debenturistas da Light, detentores de título da dívida da companhia, que representam metade do endividamento.

Negociações lentas


Em nota, esses credores dizem não terem sido informados ou terem conhecimento de proposta ou plano da companhia, o que seria consistente com a “estratégia já adotada de protelação, iniciada no final de janeiro”. E que isso “aumenta a desconfiança acerca da capacidade dos administradores de formularem proposta de boa-fé e livre de conflitos de interesses”.

Uma trava, conta outra fonte, é que as negociações a cargo da LaPlace, consultoria contratada para fazer a reestruturação das finanças da Light, “não estão caminhando na velocidade que se esperava”.

Há ainda o pilar administrativo, já que a Light está sob fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Ministério de Minas e Energia, tendo solicitado a renovação antecipada do contrato de concessão de sua distribuidora de energia, que vence em 2026. Até aqui, segue em dia com suas obrigações.

Uma posição final sobre a renovação do contrato pode levar até 18 meses. A expectativa, agora, é relacionada à recuperação judicial, explica Salomão Filho, já que a Aneel foi intimada pela Justiça a se pronunciar sobre o processo, o que deve ocorrer este mês.

Com cerca de R$ 11 bilhões em endividamento total, o Grupo Light pediu recuperação judicial no início de maio, tendo a solicitação aprovada pela Justiça na sequência. Estava pendente a aprovação pelos acionistas.

A Light não comentou.


Fonte: O GLOBO