Até o momento, opinaram pela condenação o relator do caso, Benedito Gonçalves, e Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares; o único a abrir divergência foi Raul Araújo Filho

Com o placar de 3 a 1 a favor da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) será retomado nesta sexta-feira, quando votarão outros três integrantes do colegiado: Cármen Lúcia, Kassio Nunes Marques e Alexandre de Moraes, presidente da Corte. Até que a última sessão seja efetivamente encerrada, porém, os ministros que já se manifestaram podem, em tese, alterar seus posicionamentos.

Até o momento, já votaram pela condenação de Bolsonaro o relator do caso, ministro Benedito Gonçalves, e os ministros Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares. O único a abrir divergência foi Raul Araújo Filho.

Nesta sexta, na respectiva ordem, opinarão Cármen Lúcia, Nunes Marques e Moraes. No Código Processual Civil, conta que, até que o magistrado responsável por presidir o julgamento declare a conclusão, juízes ministros de cortes superiores podem, sim, rever as próprias posições.

Isso ocorre, entre outros motivos, porque cada ministro pode, ao declarar seu voto, detalhar os motivos que embasam sua decisão individual. Assim, nada impede que outro integrante do colegiado, ao ouvir a argumentação do colega, reveja o próprio posicionamento.

Por ora, a discordância de Araújo Filho a respeito do caso de Bolsonaro girou em torno de três eixos principais. Em uma mudança de posição, ele se colocou contra a inclusão no processo como prova da minuta golpista, que já havia sido referendada pelo plenário por unanimidade em fevereiro. Ele argumentou que o documento apreendido na casa do Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, não tem relação com os fatos apreciados na ação.

Araújo Filho abriu outra divergência ao defender que a conduta de Bolsonaro na reunião com embaixadores, realizada em julho de 2022, não teve gravidade suficiente para sua inelegibilidade e não impactou a eleição. Na encontro, que norteia a ação proposta pelo PDT, o ex-presidente fez ataques, sem apresentar provas, à legitimidade do sistema eleitoral, ao próprio TSE e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Por fim, o plenário também rachou ao interpretar o comportamento de Bolsonaro como desvio de finalidade e abuso de poder, crimes pelos quais ele é acusado no processo. A primeira conduta se dá quando um agente público vale-se das atribuições de seu cargo para, sob pretexto de atender ao interesse coletivo, atuar em benefício próprio ou de terceiros. Já o abuso de poder ocorre se o servidor ou gestor extrapola suas competências previstas em lei, sem atender às necessidades coletivas.

A expectativa nos bastidores do TSE é que a derrota parcial se concretize, com Bolsonaro ficando inelegível a partir desta sexta-feira. Por conta de posicionamentos anteriores, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes são considerados votos certos pela condenação, o que garantiria o placar desfavorável para o ex-presidente.

Já Kassio Nunes Marques, o primeiro ministro nomeado por Bolsonaro para o STF, em 2020, proferiu votos em oposição aos colegas de Corte em casos recentes, como ao refutar denúncias contra envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Ele chegou a ser apontado como o responsável por um possível pedido de vista, o que forçaria o adiamento do desfecho no TSE, mas chamou o boato de "mera especulação".


Fonte: O GLOBO