Titular do Brasil com apenas 19 anos, Daniela relembra histórias da equipe que misturava experiência e juventude. Edição marcou as estreias de Marta e Cristiane pelo país

Após o bronze em 1999, a seleção brasileira feminina voltou aos Estados Unidos na Copa do Mundo seguinte para tentar alcançar mais uma vez o pódio. E, num movimento parecido com o que acontece hoje na equipe comandada por Pia Sundhage, o lema na época era a renovação, com uma nova geração em campo.

Muitas estreantes já chegaram ao torneio com alguma experiência, depois de terem disputado o primeiro Mundial sub-20, em 2002. A equipe revelou talentos como Marta, Cristiane e a meia Daniela Alves, que hoje é técnica do time feminino do Uberlândia. À época com apenas 19 anos, Daniela já tinha mais experiência em competições que outras jogadoras mais jovens. A troca rendeu bons frutos.

— As experientes passavam conhecimento para as mais novas, principalmente dentro de campo, para que entendessem rapidamente a forma de jogar e a gente fizesse um bom Mundial — conta Daniela ao GLOBO.

A ex-meia lembra que, naquela época, os jogos preparatórios para a disputa das competições eram feitos contra times masculinos do Rio, já que a concentração da seleção era na Granja Comary, em Teresópolis:

— Jogar com os meninos exige tomada de decisões mais rápidas, usar mais o físico, porque eles são mais fortes e rápidos. Mas jogando com seleções femininas você se prepara melhor e sabe o real nível em que está.

Na fase de grupos, o Brasil estreou contra a Coreia do Sul e venceu por 3 a 0. No segundo jogo, outro bom resultado: goleada sobre a Noruega por 4 a 1. Quem abriu o placar foi Daniela, com um golaço: ela levou a bola desde antes do meio de campo até a entrada da área e chutou forte no canto.

— Eu tinha a característica de chutar forte e a usava. Surpreendia a adversária, por ser uma distância grande e, às vezes, a goleira não estar preparada. Contribuir com a equipe em gols é sempre importante, e fica registrado. Brincavam que aquele gol nem goleiro masculino pegaria — diz Daniela.

Depois de um empate em 1 a 1 com a França, o Brasil pegou a Suécia nas quartas de final, quando perdeu por 2 a 1 e deixou a competição. O trabalho foi importante para pavimentar o caminho que levaria ao vice-campeonato na Copa seguinte, disputada na China.


Com apenas 17 anos, Marta terminou seu primeiro Mundial com três gols marcados e a promessa de uma carreira brilhante pela frente. O impacto da jogadora que se tornaria a maior de todos os tempos já poderia ser previsto ali, segundo Daniela:

— Marta sempre foi diferenciada. A gente já conseguia perceber, mas ainda precisava de lapidação. Ela desabrochou quando começou a disputar mais competições, por clubes e seleção.

É um momento guardado com carinho por Daniela:

—Éramos bem unidas. Foi a Copa da renovação. As meninas mais novas, que vieram da base, seguiram na seleção adulta e, nos anos seguintes, nós conquistamos títulos e medalhas.


Fonte: O GLOBO