Dirigentes de empresas contemplados em premiação do jornal defendem condições macroeconômicas para a queda dos juros e maior segurança, reformas e redução de desigualdades para os investimentos das companhias

O cenário brasileiro hoje exige mais cautela nos investimentos, segundo os 23 líderes empresariais que receberam ontem o prêmio “Executivo de Valor”. Doze receberam o reconhecimento pela primeira vez, e entre os premiados estão sete mulheres, representando 30% do grupo. O número de lideranças femininas lembradas pelo júri no primeiro turno da votação em 2023 chegou a 80, representando 17% dos indicados, um recorde histórico do prêmio.

A atual onda de incertezas não é novidade para a maioria. Eles se diferenciam por saber como atravessar períodos adversos. Por isso, encaram a crise como oportunidade. Os executivos ressaltaram os juros altos e pediram condições macroeconômicas para que a taxa básica possa cair, incluindo reformas estruturais.

Em geral, investimentos em andamento estão mantidos e os novos aguardam melhor definição do quadro. É imperativo, ressaltam os premiados, que o custo do capital seja reduzido. Nenhum fala, porém, em abandonar investimentos de longo prazo. Para eles, o Brasil dá provas de seu potencial num cenário global voltado à sustentabilidade.

O diretor-geral da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio, Frederic Kachar, apontou, na abertura do “Executivo de Valor” de 2023, a importância da transformação digital e destacou o protagonismo das empresas nas inovações tecnológicas. Ele destacou a diversidade que cada vez mais se incorpora à premiação.

— Temos muito, ainda, a avançar nesse sentido não só em relação às mulheres como aos demais grupos — afirmou Kachar, que ressaltou o privilégio do grupo, como empresa jornalística, de narrar práticas que inspiram a sociedade.

Maria Fernanda Delmas, diretora de Redação do Valor, abriu a cerimônia observando a importância da sustentabilidade nos negócios:

— Este prêmio é muito mais do que reconhecer o desempenho de 23 pessoas. Tem a missão de celebrar e mostrar o trabalho desses líderes, mas também quer ajudar outros a não ter de optar por essa falsa oposição entre crescimento e avanços sociais e ambientais.

Para os executivos, os juros são o maior desafio.

— O custo de capital bastante elevado é um peso para uma empresa que tem investido alto — disse o presidente da Raízen, Ricardo Mussa, premiado no setor de agronegócio.

O presidente da Azul, John Rodgerson, vencedor na categoria logística e transportes, e o do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, ganhador na categoria serviços financeiros, concordaram.

— A aprovação do novo marco legal de garantias pode destravar recuperação de crédito — disse Maluhy Filho.

Reforma tributária

Vencedor na categoria educação, Virgilio Gibbon, presidente da Afya, lembrou que, em paralelo, há a batalha política da reforma fiscal, que dirá se o Orçamento do governo será sustentável, com reflexos na inflação e nos juros. Para a presidente do Grupo Fleury, Jeane Tsutsui, taxa de juros e ritmo de crescimento da economia precisam ser analisados antes de investir. A executiva levou o prêmio na categoria saúde, um setor que, para ela, tem espaço para crescer:

— Responder a essas necessidades abre oportunidades.

Projetos de menor risco ou com perspectivas de retorno mais rápidas são hoje a prioridade na Petlove, segundo a presidente da empresa, Talita Lacerda, que recebeu o prêmio de destaque como jovem liderança. A presidente da Mutant, Carla Melhado, premiada na categoria startup de sucesso, ressaltou entre suas preocupações a conjuntura internacional, que também preocupa Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, que obteve no exterior quase 90% da receita em 2022.

A insegurança jurídica também apareceu entre as queixas dos executivos, como Ricardo Gontijo, presidente da Direcional e vencedor no setor indústria da construção, altamente dependente de capital. O presidente do Grupo Soma, Roberto Jatahy, vencedor em indústria da moda, apontou a “complexidade do país na agenda tributária”. Os acionistas da Aegea seguem essa linha e olham para o “longuíssimo prazo”, disse o presidente Radamés Casseb, vencedor no setor de infraestrutura.

A tributária é a reforma mais aguardada pelos premiados, como o presidente da Atlantica Hospitality International, Eduardo Giestas, vencedor no setor serviços, e o presidente da Suzano, Walter Schalka, premiado na categoria papel, papelão e celulose.

Rubens Ometto, da Cosan, que levou o prêmio de destaque como presidente de conselho de administração, ressalvou que a reforma tributária não pode, no entanto, estrangular as empresas. Para Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG e vencedor no setor máquinas e equipamentos, as mudanças devem, também, desonerar investimentos e exportações. A reforma tributária impacta diretamente o consumo, destacou o presidente da Telefônica Brasil, Christian Gebara, vencedor no setor TI & telecom.

Os premiados estão de olho nos potenciais do país e em como suas expertises podem se inserir nesse contexto.

— É importante enfrentar os desafios com resiliência, o que nos permite operar em diferentes cenários — disse o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck da Cunha, premiado em mineração e metalurgia.

Há oportunidades no empreendedorismo dos mais vulneráveis, diz Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, escolhida em empreendedorismo social.

O “Executivo de Valor” tem como carro oficial Range Rover, apoio da Aya e o hotel Rosewood como parceiro.

* Do Valor


Fonte: O GLOBO