Conselho manteve meta, modernizou a metodologia;, presidente do BC indica condições para queda dos juros

A crise entre governo e Banco Central está hoje menor depois da decisão do CMN (Conselho Monetário Nacional) de manter a meta, inclusive os números já revistos para 2004 e 2005 (3%), mas fazendo apenas um ajuste na forma de calcular se a meta foi atingida. Deixará de ser ano calendário (com vencimento em dezembro) para contínua (com prazo mais longo e se movendo de forma constante no tempo).

Havia uma rota de colisão que estava sendo muito negativa, provocando distúrbios na economia e piorando as expectativas para a alta de preços. Isso bate na inflação atual e bate também no bolso. Se os piores cenários se confirmassem (aumentar a meta para 4% e 4,5% ou até tentar mudar a autonomia do Banco Central) isso provocaria piora de todas as expectativas, o que viraria mais inflação certamente.

A decisão foi tomada por unanimidade pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do Banco Central, que compõe o CMN. O que é mais um dado bom. E a maioria dos países que usam meta de inflação adotam a meta contínua.

Tem um motivo para isso: quando há um distúrbio na economia, que os economistas chamam de choques que elevam a inflação, o BC tem que subir bruscamente a taxa de juros para tentar encontrar a meta.

Do BC vieram também sinais de fumaça, porque o presidente Roberto Campos Neto, na entrevista que deu quando divulgou o relatório de inflação, tornou mais explícito do que está na ata do Copom.

Falou claramente que a maioria foi a favor de manter a porta aberta para um corte dos juros básicos em agosto. E na verdade é o início de ciclo. Os juros continuarão caindo nas reuniões deste ano e a Selic deve chegar a 12,25% no fim de 2023, um corte de um ponto e meio. A taxa deve continuar caindo no ano que vem.

O que tudo isso tem a ver com cada um de nós? Essa discussão é menos técnica do que parece. O sistema de metas de inflação foi adotado há 24 anos, no meio de uma crise do Plano Real, com uma explosão da taxa de câmbio e da inflação.

Armínio Fraga assumiu a presidência do Banco Central e implantou esse sistema, que é muito sofisticado, para a coordenação das expectativas, e que determina a manutenção da inflação baixa.

E esse é um sistema bem sucedido. Afinal, 24 anos depois, houve momentos em que a inflação subiu muito, mas com o sistema de metas conseguiu levar a inflação de volta ao ponto desejado. Qualquer imperícia nessa mudança poderia estimular a inflação, que depois de ter chegado a 12% há dois anos, está agora em torno de 3%. Vai subir um pouco nos próximos meses mas está controlada.

A inflação quando sobe tira renda, tira previsibilidade para qualquer orçamento de cada família. E quando ela dispara mesmo, aí é o caos econômico. Ter um sistema que funciona há 24 anos e que foi confirmado é importante.

A desordem inflacionária nasce da coleção de erros da política econômica. A Argentina hoje com inflação de mais de 100% ao ano é a prova disso.


Fonte: O GLOBO