Inteligência artificial e conexão à internet vão renovar eletrodomésticos, diz Henk S. de Jong, CEO da holandesa Versuni, dona da empresa

No comando global da Versuni, multinacional holandesa dona da Philips Walita — combinação de duas das marcas de eletrodomésticos mais presentes nos lares brasileiros —, Henk S. de Jong vê a tecnologia como uma aliada para ampliar ainda mais a presença das máquinas que produz no cotidiano dos consumidores dos cem países em que a companhia atua.

Em entrevista ao GLOBO, o executivo holandês diz que a companhia quer dobrar as vendas na América Latina — o Brasil é um dos cinco maiores mercados do grupo — nos próximos anos com inteligência artificial e a conexão à internet de aparelhos como cafeteiras, airfryers (fritadeiras elétricas), ferros de passar e purificadores de ar, diz ele, que destaca a criatividade dos brasileiros.

Quais os planos da Versuni para a Philips Walita?

Durante a pandemia nosso negócio cresceu bastante, na casa dos dois dígitos. Esse ritmo continuou no primeiro trimestre deste ano. Estamos investindo em digitalização de processos na (computação em) nuvem para trabalhar de modo mais rápido e eficaz, integrando fábricas e vendas. Vamos nos tornar uma empresa digital.

Estamos aumentando os investimentos para lançar novos produtos com inovação e tecnologia. Se você não viaja, por exemplo, vai querer comprar soluções para sua casa e investir em produtos com soluções para facilitar sua vida. Em 2022, alcançamos € 2,6 bilhões (R$ 13,75 bilhões) em vendas globais e temos 6.400 trabalhadores. Temos cinco unidades fabris no mundo, uma delas em Varginha (MG), com 450 funcionários.

Quais investimentos em tecnologia estão em curso?

Estamos investindo cerca de € 130 milhões (R$ 687,3 milhões) no mundo, de 4% a 5% do nosso faturamento. Nossa ambição é que a maioria dos produtos esteja conectada nos próximos cinco anos. Tecnologia conectada é o futuro. Além disso, vemos os consumidores cada vez mais preocupados com produtos que consomem menos energia.

E como a empresa coloca isso em prática?

A tecnologia está facilitando o dia a dia. Um exemplo é a plataforma NutriU para a airfryer, que não é somente um guia de receitas digitais. Além de dicas para cozinhar, avisa no celular que o alimento está pronto e permite programar o funcionamento do aparelho de forma remota. Estamos construindo essa plataforma em países como Turquia, China e Holanda.

A inteligência artificial está no aplicativo que se comunica com o produto, que tem um chip que traduz as ações. Isso permite entender o que o cliente está fazendo e gerar conteúdo com base no seu uso, como sugerir outras opções para cozinhar o mesmo ingrediente ou receitas de outros lugares do mundo.

A intenção é ter esse tipo de tecnologia em quais categorias?

Estamos, por exemplo, desenvolvendo um ferro de passar roupa que tem um chip capaz de identificar os tecidos, adaptando temperatura e o vapor automaticamente. Estamos testando em alguns países. Fica quase impossível queimar a roupa. A tecnologia reconhece o tipo de tecido e gera uma velocidade específica para o vapor, assim como sua direção e intensidade. A base do ferro tem um chip e uma câmera. Essa tecnologia permite que o ferro gere mais ou menos calor.

Outro exemplo é a cafeteira conectada. Vamos lançar no próximo ano. No seu telefone, você clica e pede um café. Estamos usando conectividade para facilitar a vida das pessoas com essas ideias. Também ajuda a saber se os produtos têm algum tipo de avaria ou se precisam de manutenção. Estamos lançando um robô (aspirador) com aplicativo, que mostra como foi a limpeza e controla o aparelho pelo celular.

O consumidor já quer essa tecnologia toda nos produtos? Como equilibrar custo maior e o bolso?

Estamos inovando para entender melhor o que o consumidor quer. E assim seguir novos caminhos. Para nós, isso traz mais informação sobre o comportamento do consumidor. No mundo inteiro, temos diversos centros de desenvolvimento. Uma de nossas apostas é tropicalizar os produtos para o gosto do brasileiro. E também estamos usando o gosto do brasileiro para melhorar nossos produtos para o mundo. Nossa estratégia é combinar isso.

O Brasil é muito aberto a novas tecnologias. Acredito que a qualidade ainda é o fator decisivo na hora da aquisição de um novo produto, tanto para aquele consumidor interessado em itens com mais inovação quanto para aquele que busca um preço mais competitivo. (...) Sempre quando tem crise, o consumidor busca marcas com qualidade e maior duração.

Qual é o plano de crescimento da empresa no Brasil?

Nossa ambição é dobrar as vendas na América Latina nos próximos anos. Pretendemos continuar a crescer em todas as categorias, mas, em particular, em cafeteiras e airfryers. Queremos levar airfryers para todos os lares. Hoje, 70% do que vendemos no Brasil são produzidos aqui, e 30%, importados. Em Varginha, temos espaço para crescer. O Brasil tem desempenhado um papel fundamental na região, funcionando como um hub de exportação para outros países como Argentina, Chile e México.

É importante não só em faturamento, mas em outros aspectos como as ideias e a criatividade. Muitas inovações nascem aqui. E o consumidor é muito aberto a novidades. No Brasil, tenta-se uma ideia e, se não der certo, tenta-se outra opção. E vai se tentando. Isso é uma força grande. (...) A aplicação de tecnologia é a criatividade. É o casamento entre o que permite a tecnologia e o que o consumidor quer. A peça-chave é traduzir a tecnologia em necessidade do consumidor e vice-versa.


Fonte: O GLOBO