Contratos de adesão devem ser os primeiros a ir para a Unimed Federação. Plano deve ser entregue à ANS em breve

Os contratos de adesão de apólice aberta, aqueles vinculados a uma categoria profissional, firmados no Estado do Rio devem ser os primeiros a serem transferidos pela Unimed-Rio para Unimed Federação do Estado do Rio (Unimed Ferj). A empresa anunciou, nesta terça-feira, aos seus cooperados que está estruturando a transferência de parte da sua carteira de usuários.

No caso dos planos de pessoas físicas, moradores das cidades de Rio e Duque de Caxias serão mantidos na Unimed-Rio. Os demais também poderão ser transferidos.

O plano, que deverá ser entregue em breve à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), faz parte do projeto de reestruturação econômico-financeira da cooperativa, que está em direção fiscal desde 2016.

Numa segunda etapa, a Unimed-Rio pretende transferir esse mesmo tipo de contrato (de adesão de apólice aberta) firmado fora do Estado do Rio a um ente do sistema nacional como a Central Unimed ou Seguros Unimed.

Ex-usuários da Golden devem ser transferidos

A carteira de planos individuais da Golden Cross, comprada pela cooperativa carioca há uma década, com usuários espalhados por todo o Brasil também está no escopo de transferência que será apresentado à ANS.

A ideia é repassar os contratos de pessoas físicas que não tenham residência no Rio às Unimed singulares de sua região de moradia ou a algum ente do sistema Unimed de abrangência nacional.

O mesmo processo seria feito com contratos com microempresas fora do Rio.

Segundo fontes próximas às negociações, o objetivo da Unimed-Rio com essas transferências é aumentar a gestão sobre a sua carteira, o que é mais simples de fazer quando os beneficiários são atendidos em sua rede do que por intercâmbio nas Unimeds singulares.

Dessa forma a ideia é reduzir a sinistralidade, relação entre os valores arrecadados com mensalidades e o gasto assistencial, que hoje ultrapassa os 100%. Ou seja, dá prejuízo. Entre janeiro e setembro do ano passado, a cooperativa carioca acumulava um resultado negativo de R$ 1,3 bilhão. Os dados do quatro trimestre ainda não foram divulgados pela companhia.

Transferência gradativa

Ainda de acordo com pessoas a par do planejamento das transferências, contratos corporativos e de adesão vinculados à instituições, organizações ou fundações não estão incluídos nesse plano de reestruturação.

O plano a ser apresentado à ANS prevê que todas as transferências sejam feitas de forma gradativa. No caso da primeira etapa com a Unimed Ferj, por exemplo, que recentemente passou a atuar como operadora de plano de saúde, a ideia é que sejam estabelecidas fases para garantir que a empresa esteja estruturada para receber os usuários da Unimed-Rio.

Além disso, uma transferência em bloco poderia agravar a situação financeira da cooperativa, já que de um mês para o outro a Unimed-Rio deixaria de receber as mensalidades de milhares de usuários, mas as contas de seus procedimentos realizados continuariam a chegar pelos próximos 30, 60 dias.

Nesse mercado, há um gap entre a realização e o pagamento de exames, consultas, cirurgias. Por isso, é importante o faseamento da operação.

Numa primeira consulta, a ANS informou à Unimed-Rio que não teria objeção à transferência, mas que aguarda a solicitação formal e a entrega dos documentos para que a viabilidade possa ser analisada, dentro de parâmetros que não tragam prejuízos ao consumidor.

Mudanças no negócio

A Unimed-Rio também comunicou aos seus cooperados a criação da Unimed-Rio Pronto Atendimento Serviços Médicos, que irá responder pelos prontos atendimentos como uma unidade separada a partir de 1º de junho. Existe a expectativa de novas empresas serem criadas para absorver outras unidades de negócios, como hospitais e centros especializados.

Além de facilitar a gestão operacional da empresa, com administração focada para cada um dos negócios, a separação de ativos em diferentes empresas pode facilitar uma eventual venda.

O desinvestimento do Hospital Unimed, na Barra da Tijuca - que tem pronto atendimento - faz parte do plano de reestruturação da cooperativa. A unidade está à venda há dois anos e, segundo fontes, há propostas em análise, mas até agora não foi batido o martelo.

Na última semana, a Unimed-Rio vendeu, por R$ 350 milhões, ao Grupo Oncoclínicas, as participações que tinha no Centro de Excelência Oncológica S.A. (Ceon), na Barra da Tijuca, e no Hospital Marcos Moraes (HMM), no Méier, ambos especializados no tratamento de câncer.

Segundo a cooperativa, esse movimento também faz parte do processo de reestruturação. A Oncoclínicas seria uma das interessadas no Hospital Unimed.

No fim de abril, a cooperativa firmou um acordo operacional com a Dasa que garante à rede integrada de saúde, por dez anos, 70% do valor desembolsado pela cooperativa com serviços ou R$ 308 milhões anuais, o que for maior.

No entanto, nem todo o montante dessas transações entra como recurso para reforça o caixa da empresa. Parte será usada para abater dívidas ou valores a vencer.

Entenda a situação da Unimed

Com 720 mil clientes e cerca de cinco mil médicos cooperados, a Unimed-Rio vive uma situação complicada há anos. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado em 2016 e com vencimento em 2024, criou condições similares a de uma recuperação judicial para que a operadora pudesse atravessar uma grave crise financeira, garantindo a assistência aos seus beneficiários.

Esse termo alongou prazos de pagamento e garantiu a manutenção de atendimento pela rede prestadora de serviços da empresa, de forma que os consumidores não fossem prejudicados pela crise financeira da cooperativa.

A empresa tem enfrentado problemas assistenciais, estando por dois ciclos seguidos no topo das reclamações à ANS. Segundo a agência, a Unimed-Rio tem 180 planos ativos e 105 suspensos por determinação da agência devido a reclamações de consumidores sobre a assistência.


Fonte: O GLOBO