Documento vai citar atos golpistas e exemplos internacionais para evitar retorno da atribuição aos militares

A Polícia Federal tem intensificado as articulações para permanecer à frente do comando da segurança presidencial em meio a declarações do novo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marcos Amaro, afirmando que a proteção do presidente Luiz Inácio Lula da voltará para a alçada dos militares. 

Para tentar convencer Lula a manter a segurança sob comando civil, a PF prepara um relatório com uma série de apontamentos sobre o trabalho feito pela Secretaria de Segurança Imediata ao longo dos últimos quatro meses e uma proposta de reestruturação da proteção do chefe do Executivo, que prevê integração de todas as etapas do trabalho.

Atualmente, a segurança de Lula é dividida em três camadas e não tem um comando unificado: a imediata é comandada pela PF, enquanto a aproximada e a afastada — em eventos e viagens​ — ficam com o GSI. Amaro e a PF trabalham para ter o controle total dessas estruturas.

O relatório vai citar os atos golpistas de 8 de janeiro como um exemplo de que a tarefa não pode caber aos militares — a conduta de integrantes da caserna é investigada em apurações internas. 

O material vai lembrar ainda que países com democracias consolidadas como Alemanha, Estados Unidos, Itália e Canadá possuem civis no comando da tarefa e vai trazer exemplos de nações que tiveram problemas com a "remilitarização" da segurança presidencial, como a Colômbia, que passou por esse processo entre 2017 e 2019 e precisou voltar atrás. Desde 2019, o trabalho é feito pela Polícia Nacional daquele país.

A PF vai defender a integração entre civis e militares, mas com estrutura sob comando civil. Atualmente, 30% dos integrantes da secretaria são policiais militares, oficiais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Forças Armadas. O coordenador do escritório de São Paulo, responsável pela segurança dos familiares de Lula e Geraldo Alckmin, é um coronel do Exército.

Nesta segunda-feira, com a queda de braço entre GSI e PF em pleno andamento, uma nova turma de 40 policiais começou a trabalhar na segurança imediata do presidente. O grupo é formado predominantemente por policiais federais, mas também há policiais militares da Bahia, da Polícia Penal do Rio Grande do Sul e da Força Nacional. De acordo com integrantes da secretaria, estados têm sido receptivos aos pedidos para integrar a equipe presidencial.

Enquanto isso, o general Amaro trabalha na escolha dos nomes que vão compor os principais cargos do GSI. O ministério é formado por quatro secretarias, e metade está sem titulares. Após a saída do general Gonçalves Dias, 87 pessoas foram exoneradas do órgão — todos os cargos de comando que estavam chefiados por nomes ligados ao governo Bolsonaro foram desligados, incluindo generais do Exército. 

A pedido de Lula, o general deverá mesclar nomes civis e militares em postos de chefias do ministério.

Internamente, Amaro tem dito que não pretende entrar em embate com a PF e usado a citação do decreto presidencial que define que a secretaria comandada pela PF é temporária, até 30 de junho. O texto afirma que, após esse período, a segurança pessoal do presidente passará a ser exercida pelo GSI.

Em entrevista ao GLOBO, o general disse que já tinha sinalização de Lula de que a proteção presidencial ficaria com o GSI. Caso isso se confirme, a cúpula da PF tem dito que deixará a segurança de Lula e Alckmin para que não haja policiais federais subordinados aos militares.


Fonte: O GLOBO