Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, demandar criação de foro especial para investigar invasão russa

A Rússia realizou bombardeios aéreos contra cidades da Ucrânia na madrugada desta quinta-feira, após culpar Kiev e os Estados Unidos pelo ataque com drones que o Kremlin sofreu na véspera. 

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, por sua vez, foi a Haia visitar o Tribunal Penal Internacional, demandando a criação de um foro especial para investigar as autoridades russas por possíveis crimes cometidos durante a invasão que começou em fevereiro do ano passado.

Segundo a Força Aérea ucraniana, os russos lançaram nas últimas 24 horas ao menos 24 drones kamikaze, 18 deles derrubados com sucesso pelos sistemas de defesa antiaérea de Kiev. Todos os artefatos lançados contra a capital foram abatidos, assim como mísseis balísticos, disse um representante do governo ao New York Times, naquele que foi o terceiro ataque russo contra a cidade em quatro dias.

Três grandes explosões foram ouvidas por volta das 2h30 (20h30 de quarta no Brasil), e a polícia isolou destroços de um míssil abatido. Algumas janelas ficaram estraçalhadas e o céu foi tomado por fumaça, mas não houve maiores danos materiais ou humanos.

Ao menos 15 drones foram registrados em Odessa, cidade portuária no Sul, disseram as autoridades ucranianas, e 12 deles foram abatidos. Os três que passaram pelo sistema de defesa atingiram dormitórios de um centro educacional, mas não há relatos de vítimas fatais.

Em Kherson, alvo de bombardeios na quarta, o número de mortos subiu para 23, um dos maiores desde o início do conflito. Em regiões mais próximas da linha de frente no leste e no sul, também houve relatos de bombardeios, mas a extensão dos danos ainda não é clara.

Autoridades americanas e ucranianas haviam alertado na quinta-feira que temiam uma acirrada dos ataques russos após as explosões na véspera contra o Kremlin, sede do governo russo e residência oficial do presidente Vladimir Putin. A Presidência russa disse que considera as ações "como um ataque terrorista planejado e um atentado contra o presidente”, que estava em outra residência no momento do incidente, e se reserva o direito de retaliação.

Nesta quinta, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, disse que os Estados Unidos estão por trás da decisão ucraniana de atacar a sede do governo. Segundo ele, "decisões sobre tais ataques terroristas são tomadas não em Kiev, mas em Washington".

— Nós sabemos que com frequência não é Kiev que determina os alvos, mas Washington — disse ele durante seus pronunciamentos diários. — É muito importante que Washington entenda que sabemos isso e compreenda o quão perigoso tal envolvimento direto no conflito é.

Os americanos ainda não fizeram comentários sobre as mais recentes alegações russas, mas na véspera, quando os russos apontavam apenas envolvimento da Ucrânia, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, por sua vez, disse que as informações do Kremlin não podem "de modo nenhum" serem validadas. O diplomata também afirmou, no entanto, que os ucranianos estão sob ataque russo e cabe a eles definir como se defender da agressão.

A Ucrânia, que por via de regra adota ambiguidade sobre ataques no território russo, negou deliberadamente qualquer participação e afirmou que o Kremlin realizou uma autossabotagem para aumentar o apoio popular sobre o conflito. Os russos, segundo Mykhailo Podolyak, conselheiro do Gabinete da Presidência da Ucrânia, preparam o terreno para um "ataque terrorista de ampla escala".

Em Moscou, há vozes que defendem uma escalada do conflito, às vésperas de uma aguardada contraofensiva ucraniana nesta primavera boreal. 

O ex-presidente Dmitry Medvedev, atual vice-presidente do influente Conselho de Segurança da Rússia, demandou a "eliminação" de Zelensky, enquanto a Comissão Investigativa da Rússia, que apura grandes crimes no país, afirmou ter aberto uma investigação de terrorismo.

— Vamos demandar o uso de armas capazes de parar e destruir o regime terrorista de Kiev — disse Vyacheslav Volodin, presidente da Duma, a Câmara Baixa do Parlamento russo, e um aliado de Putin.


Fonte: O GLOBO