Pontífice passou três dias internado no final de março devido à pneumonia; idade avançada e saúde do argentino vêm gerando preocupação

O Papa Francisco não realizou audiências no Vaticano na manhã desta sexta-feira após ter febre, informou o Vaticano. Não há mais detalhes sobre o estado de saúde do Pontífice de 86 anos, cuja idade avançada e problemas recorrentes de saúde — entre eles uma pneumonia que o deixou internado por três dias em março — forçaram o cancelamento de uma série de compromissos nos últimos meses.

Indagado por um repórter sobre a razão para o Papa argentino, que completou uma década do Trono de São Pedro em março, ter cancelado seus compromissos matinais, o porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni, afirmou:

— Devido a uma febre, o Papa Francisco não teve audiências nesta manhã.

Na tarde de quinta, segundo a agência Reuters, o argentino demonstrou fadiga em um encontro com estudantes perto do Vaticano. Não está claro se o Pontífice terá audiências privadas no sábado, mas seus compromissos para os próximos dias permanecem mantidos até o momento, incluindo a Missa de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa, que será celebrada no domingo na Praça de São Pedro.

No dia 29 de março, Francisco foi levado de ambulância para a Policlínica Gemelli, em Roma, após passar mal depois de uma audiência. Ele recebeu tratamento com antibióticos e foi liberado três dias depois do hospital, onde há no 10º andar uma ala exclusiva para tratar dos chefes da Igreja Católica.

Na época, noticiou-se que Francisco havia sido diagnosticado com bronquite aguda, mas em uma visita à Hungria no mês passado o religioso disse que sofreu de uma forma "aguda e grave" de pneumonia localizada na parte inferior do pulmão. O Pontífice teve a maior parte do pulmão direito removida aos 21 anos de idade por causa de uma pneumonia grave, e sua saúde vem sendo motivo de especulações desde que a fumaça branca saiu da chaminé do Vaticano anunciando seu nome em março de 2013.

— Eu senti uma dor intensa no final da audiência [do dia 29 de março]. Não perdi a consciência, mas tive uma febre alta — disse o Papa a jornalistas, durante o voo de retorno de Budapeste para Roma. — O organismo respondeu bem ao tratamento. Graças a Deus eu posso dizer isso agora.

Comentando o assunto em uma entrevista ao canal em espanhol Telemundo na quinta, Francisco disse que a pneumonia foi "tratada a tempo", mas que se tivesse esperado algumas horas a mais para ir ao hospital, a situação poderia ter sido "mais grave".

Em julho de 2021, Francisco passou 10 dias internado após uma cirurgia no intestino grosso em julho de 2021. Na época, ele foi admitido na Gemelli para fazer uma operação pré-agendada para tratar de uma diverticulite, inflamação na parede do intestino grosso que causa espessamento da parede do órgão, que fica mais estreito. No jargão médico, o termo para o quadro é estenose.

A ideia inicial era fazer uma cirurgia robótica, com técnica sofisticada e pouco invasiva realizada com a ajuda de robôs. O quatro provou-se mais grave do que o inicialmente previsto já no centro cirúrgico, contudo, e os médicos acharam melhor mudar os planos e fazer um procedimento "a céu aberto", quando a barriga é cortada. Cerca de 33 centímetros do órgão foram removidos.

O Papa também sofre de osteoartrite, também chamada de artrose, do joelho direito. O quadro inoperável dificulta sua locomoção, forçando-o a se locomover com muletas ou cadeiras de rodas. Ele também teve de cancelar ou reduzir as atividades várias vezes nos últimos meses devido à dor.

A idade avançada agrava a situação, mas, segundo informações da imprensa italiana, a doença estaria associada à postura errada. O problema postural o levou a descarregar mais peso na articulação do joelho direito, o que levou ao seu enfraquecimento ao longo do tempo e provocou um desgaste severo do ligamento.

Em uma entrevista no fim do ano passado, o Papa argentino afirmou que assinou uma carta de renúncia há quase uma década para o caso de eventualmente a saúde precária o impedir de desempenhar suas funções. Antes, já havia dito que não descartava renunciar ao trono de São Pedro caso percebesse que não tem mais condições de fazer seu trabalho.

As especulações sobre a possibilidade de uma abdicação se intensificaram após a morte de seu antecessor, o Papa Bento XVI, em 31 de dezembro. Em 2013, o alemão quebrou um tabu de seis décadas ao abrir mão do comando da Igreja, admitindo que a idade avançada e a saúde frágil já não lhe davam mais condições para liderar a instituição.

Bento XVI passou sua última década de vida em recolhimento no mosteiro Mater Ecclesiae, no perímetro do Vaticano, o que forçou a comunidade religiosa a navegar por um mundo com dois Papas com estilos e visões diferentes sobre como a Igreja deve ser conduzida. Apesar de atritos pontuais, a coexistência foi majoritariamente pacífica e abriu precedentes para que outros herdeiros de São Pedro sigam pelo mesmo caminho.

Francisco, contudo, sinaliza que a hipótese de renúncia não está em seu horizonte. Durante a viagem para a Hungria no mês passado, por exemplo, afirmou que seus problemas médicos não devem impedir que sua agenda de viagens continue. De 2 a 6 de agosto, o Papa tem marcada uma ida a Lisboa para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e, no mês seguinte, deve ir a Marselha, na França. Mais adiante, tem viagem marcada para a Mongólia.


Fonte: O GLOBO