Após viver em hotel de luxo de Dubai, empresário foi deportado e vai para presídio superlotado em SP

Deportado para o Brasil na noite de sábado, o empresário Thiago Brennand passou por uma audiência de custódia ontem, e o juiz Orlando Gonçalves de Castro Neto, plantonista do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, decidiu mantê-lo em prisão preventiva. 

Réu em oito processos por estupro, sequestro, cárcere privado, lesão corporal, corrupção de menores, ameaça, calúnia, injúria e difamação, o empresário ficou sete meses no exterior como foragido da Justiça vivendo em um hotel de luxo em Dubai, no Emirados Árabes Unidos, com diárias de até R$ 22 mil. Há duas semanas, ele foi preso pela Interpol em Abu Dhabi, no mesmo país árabe. 

Ao chegar no Brasil, na noite de sábado, Brennand foi flagrado reclamando de cansaço, como mostrou o “Fantástico”, da TV Globo.

— Eu tô literalmente há dois dias com a mesma roupa — afirmou o acusado.

Ele foi encaminhado para o Centro de Detenção Provisória Pinheiros I (CDP I), em SP, que tem quase 200 presos a mais do que a sua capacidade, de 521 pessoas.

De acordo com o delegado da Polícia Federal José Vianey, que estava na equipe da deportação, Brennand foi levado pela polícia de Abu Dhabi até Dubai, onde foi entregue para as autoridades brasileiras no aeroporto. Segundo ele, o embarque foi feito, como manda o procedimento nesses casos, antes dos outros passageiros para não chamar atenção.

— Os policiais vêm conversando com o preso regularmente. Então ele obviamente conversou bastante. Se tem dúvidas em relação ao que está acontecendo, ao que vai acontecer — afirmou Vianey em entrevista exclusiva ao “Fantástico”.

Volta ao Brasil

Ainda de acordo com o programa, Brennand veio sem algemas durante o voo e sentou no fundo do avião. Teve que cortar o cabelo e raspar a barba quando chegou no CDP I, local que recebe exclusivamente presos provisórios envolvidos em crimes contra a dignidade sexual, como o caso do empresário.

Lá, ele recebeu um kit com toalhas, cobertor, prato e colher para fazer as refeições, uniforme com calça cáqui e camiseta branca, além de produtos de higiene. Neste momento, está numa cela individual, onde pode ficar de dez a trinta dias isolado dos outros presos. É um procedimento padrão para quem chega à cadeia.

Os advogados do empresário tentaram que ele fosse encaminhado para o Centro de Detenção Provisória de Guarulhos, na Grande São Paulo, onde uma das duas unidades têm menos presos que sua capacidade.

Também foi levantada a possibilidade de Brennand ser levado para a Penitenciária de Tremembé, no interior do estado, onde presos de crimes que ficaram famosos, como Alexandre Nardoni, Mizael Bispo de Souza, Gil Rugai, Cristian Cravinhos e Lindenberg Alves, estão ou estiveram detidos. Mas a penitenciária só abriga presos após a condenação.

Em Dubai, ele viveu em um hotel cinco estrelas com sete restaurantes, piscinas e spa.

Segundo informações da TV Globo, ele resistiu à prisão, disse que era inocente e que estava sendo injustiçado ao ser preso nos Emirados Árabes Unidos (EAU). A polícia agiu rápido após suspeita de uma possível fuga para a Rússia onde tem amigos e já morou antes da pandemia.

— É evidente que temos que respeitar a presunção de inocência. Mas são acusações gravíssimas que ele tem que responder para a Justiça que, tenho certeza, terá uma decisão em breve. E satisfatória — afirmou Augusto de Arruda Botelho, Secretário Nacional de Justiça, ao “Fantástico”.

Em 4 de setembro do ano passado, no mesmo dia em que Brennand fugiu do país, o Ministério Público de São Paulo ofereceu denúncia à Justiça contra ele por conta de uma agressão na academia. Segundo a Promotoria, Brennand atacou Helena Gomes depois que ela recusou convite para sair com ele. Na academia, além de empurrá-la, ele chegou a arrancar um tufo de cabelos e cuspir na jovem.

Para Helena Gomes, a prisão do empresário é importante para que mulheres vítimas desse tipo de crime se sintam mais motivadas para denunciar os agressores. Ela também torce para outras pessoas atacadas por Brennand e que não se sentiram à vontade para denunciá-lo agora considerem-se protegidas para fazer o boletim de ocorrência.

— É um sentimento de satisfação. Mas foi triste perceber o quanto as mulheres no Brasil não se sentem livres para denunciar seus agressores. É impressionante que um homem desses venha cometendo crimes desde jovem e nunca tenha sido punido — diz ela.

Acusações

Depois da divulgação do caso, pelo menos 15 mulheres procuraram o MP paulista para denunciar abusos, estupro e ameaças feitas pelo empresário.

Ao “Fantástico”, Marcio Cezar Janjacomo, advogado que representa 12 vítimas do empresário, afirmou que todas elas estão encorajadas a ficarem de frente com Thiago Brennand e ratificar todas as acusações.

Nas redes sociais, Stefanie Cohen, que o acusa de estupro, comemorou a prisão.

— Escutei de muita gente que não ia dar certo, que ele não ia ser preso, que pessoas que têm o dinheiro que ele tem não são presas. Mas esse dia chegou. Ele foi preso. Nós conseguimos — afirmou.

Ao GLOBO, no ano passado, ela afirmou que estava vivendo “no modo automático” e vivia medicada com calmantes desde que decidiu denunciar o abuso sexual que sofreu. Na ocasião, ela afirmou que teve a vida destruída, mas que fará tudo para encorajar outras vítimas a virem a público.

— Não lembro direito, nem da ordem das coisas. Lembro só das piores partes. Tudo era muito violento, sem preservativo... Eu nunca tinha feito relação anal, e ele me forçou. Lembro de pedir: “não, por favor, não”. Ele dizia: “amorzinho, agora você é minha namorada”. E me estuprou — afirmou ao GLOBO Cohen, que acredita ter sido dopada no dia do abuso. (com g1)


Fonte: O GLOBO