Anúncio foi feito durante a conferência anual de desenvolvedores do Google no Vale do Silício

O Google anunciou nesta quarta-feira a abertura do chatbot Bard, concorrente do ChatGPT (da OpenAI com apoio da Microsoft), para 180 países, e anunciou a integração da nova tecnologia a várias de suas plataformas, inclusive a popular e dominante ferramenta de buscas on-line. Trata-se de mais um capítulo da nova disputa entre buscadores aberta pela chegada da inteligência artificial (IA), que deu nova chance ao Bing, da Microsoft, de desafiar a hegemonia do Google, da Alphabet.

O Google informou que, no momento, o Bard não estará no Brasil, ressaltando que a empresa está gradualmente expandindo seu acesso a mais países e regiões em inglês. "Continuaremos a implementá-lo em outros países, regiões e idiomas ao longo do tempo”.

A lista completa dos países ainda não foi divulgada mas, neste primeiro momento, o Bard funciona apenas em inglês, japonês e coreano. O Google prometeu expandir o sistema para mais 40 idiomas "em breve", incluindo o português. Até então, a inteligência artificial só funcionava nos Estados Unidos e em inglês.

-- Há sete anos somos uma empresa de inteligência artificial e estamos em um ponto de inflexão -- disse Sundar Pichai, diretor do grupo californiano, diante de milhares de pessoas reunidas no anfiteatro da empresa em Mountain View. -- Com a IA generativa, estamos dando o passo seguinte.

O executivo apresentou as novidades na conferência anual Google I/O 2023, realizada no Vale do Silício, na Califórnia.

-- Estamos repensando todos os nossos produtos principais, inclusive a busca -- afirmou o executivo do Google, que nos últimos meses vem sendo fustigado pelos avanços do Bing, da Microsoft


"Há algum tempo, estamos fazendo com que nossos produtos sejam radicalmente mais úteis através da IA generativa, segundo uma abordagem audaciosa e responsável", acrescentou.

O lançamento, em novembro, do ChatGPT - projetado pela empresa californiana OpenAI e financiado principalmente pela Microsoft - deu início a uma corrida frenética pela IA generativa, entre o entusiasmo e preocupações apocalípticas. O Google respondeu com o Bard, aberto ao público, de forma limitada, em março.

Rivalidade

A empresa também mostrou como a busca on-line irá mudar gradualmente, com respostas escritas para as perguntas dos usuários acima dos links tradicionais e a possibilidade de interagir com a interface, solicitando esclarecimentos, por exemplo.

A nova oferta de pesquisa, que o Google está chamando de “experiência generativa de pesquisa”, ou SGE (na sigla em inglês), exibe uma resposta produzida por IA no topo dos resultados, que procura atender à consulta de um usuário enquanto resume as principais informações e vincula a fontes do site.

Se alguém estiver usando os novos recursos de pesquisa para descobrir o melhor lugar para ir nas férias em família, por exemplo, pode digitar “O que é melhor para uma família com crianças menores de 3 anos e um cachorro, Bryce Canyon ou Arches?” na barra de pesquisa do Google. O Google então faz um resumo usando IA.

“A qualidade da informação sempre foi a base de nossa experiência de busca”, disse Liz Reid, vice-presidente de buscas do Google.

O Google lista os sites de onde sua IA extraiu informações - embora, ao contrário do Bing da Microsoft, não inclua fontes de notas de rodapé. A empresa disse que uma situação que acredita que a IA generativa pode lidar particularmente bem é ajudar as pessoas que desejam usar o Google para pesquisar o que comprar on-line.

Filtro Perspectivas

O Google também anunciou um novo filtro chamado Perspectivas, que visa mostrar aos usuários vídeos longos e curtos e outras publicações em fóruns que descrevem as experiências de pessoas de toda a web - uma tentativa da empresa de atrair uma base de usuários mais jovens e combater a enorme popularidade do TikTok da ByteDance.

O filtro pode incluir vídeos do YouTube e influencers das redes sociais, embora nem todas as consultas de pesquisa acionem o Perspectivas. O filtro está sendo lançado primeiro para tópicos como compras, viagens e conselhos sobre como fazer, mas o filtro não será accionado para questões sensíveis, incluindo saúde, finanças ou tópicos politicamente controversos.

A empresa anunciou para breve uma série de outras funcionalidades relacionadas com a IA na pesquisa experimental, incluindo anúncios. O Google em breve permitirá que os usuários obtenham informações sobre imagens geradas por IA com etiquetas para que possam saber quando as fotos são criadas por serviços de IA como Midjourney e Shutterstock.

Uma nova ferramenta chamada “Sobre esta imagem” divulgará informações como quando o Google registrou a imagem pela primeira vez e onde mais ela apareceu. O recurso vai estrear primeiro nos EUA.

A empresa abriu uma lista de espera na qual os usuários podem se inscrever para utilizar a nova pesquisa em algumas semanas.

Além disso, o grupo californiano está desenvolvendo extensões para o Bard, para que os usuários possam interagir diretamente com o robô por meio do aplicativo de mapas Maps, da caixa de mensagens Gmail ou do processador de textos on-line Docs.

Também estão disponíveis recursos para companhias que desejam construir suas próprias ferramentas generativas baseadas em IA (busca, robôs conversacionais, etc) para seus aplicativos, com seus próprios dados.

A Microsoft fez anúncios semelhantes recentemente. A empresa de tecnologia já havia integrado o ChatGPT ao seu mecanismo de buscas Bing e, na semana passada, o disponibilizou por completo ao público em geral - o que deu nova vida a esse portal até então pouco relevante em comparação ao gigante Google.

Os dois rivais competem entre si na tentativa de transformar suas plataformas impulsionadas por IA nos assistentes pessoais preferidos pelos usuários.

Apesar do esforço conjunto de duas das maiores empresas do mundo, entre os riscos da inteligência artificial estão seus possíveis usos para desinformação, com clones de voz, vídeos falsos e mensagens escritas de forma convincente.

Em março, um grupo de especialistas pediu uma pausa no desenvolvimento de sistemas de IA poderosos para dar tempo de garantir sua segurança.

O cientista da computação Geoffrey Hinton, apelidado de "padrinho da inteligência artificial", recentemente deixou seu cargo no Google para denunciar os perigos dessa tecnologia, afirmando que a ameaça existencial da IA é "séria e iminente".

Celular dobrável

O Google também apresentou o seu primeiro celular dobrável. O Pixel Fold chega ao mercado para concorrer com o Galaxy Z Fold 4, da Samsung, e tem uma tela externa de 5,8 polegadas e a interna (modo tablet) avança para 7,6 polegadas.

Ele tem uma câmera principal de 48 megapixels de resolução, uma ultrawide de 10,8 megapixels e uma teleobjetiva também de 10,8 megapixels.

O Pixel Fold traz outras duas câmeras frontais, sendo uma na tela externa e outra na interna (modo tablet): 9,5 megapixels e 8 megapixels, respectivamente.

O aparelho começa a ser vendido por US$ 1.799 (ou R$ 8.907, cotação atual). Não há previsão de lançamento no Brasil.

IA generativa para clientes na nuvem

A empresa anunciou ainda uma variedade de novas maneiras pelas quais os clientes na nuvem podem usar suas ferramentas de IA generativas.

A empresa revelou um novo serviço, Duet AI, que chamou de "colaborador movido a IA". O Google disse que o produto ajudaria os clientes em uma série de tarefas, desde fornecer informações sobre o código dos usuários até ajudá-los a criar aplicativos sem escrever nenhum código.

A empresa também disse que lançaria três novos modelos de IA para seus clientes: Codey, para ajudar na codificação; Imagen, para geração de imagens; e Chirp, que processa a fala. Além disso, o Google disse que lançaria ferramentas que tornariam mais fácil para as empresas ajustar seus modelos com base no feedback humano.

Outros recursos do Duet AI permitem que clientes em nuvem e desenvolvedores de aplicativos usem prompts com tecnologia IA para escrever código, além de criar recursos personalizados em seus aplicativos do Google Workspace, disse a empresa. Os próprios clientes da nuvem não precisam ser capazes de codificar.

Modelo de linguagem PaLM 2

A empresa apresentou ainda um novo modelo de linguagem de grande dimensão, conhecido como PaLM 2, que, segundo a empresa, já tinha sido integrado em muitos dos seus produtos de referência.

O PaLM 2 foi treinado em grandes quantidades de texto de toda a Web. O modelo também foi treinado em linguagem de codificação e dados matemáticos, ajudando-o a sair-se melhor com problemas lógicos e matemáticos, disse o Google.

Como alguns no campo da IA notaram como o ChatGPT da OpenAI se debate com problemas de palavras, espera-se que o novo modelo do Google seja avaliado de perto quanto ao seu desempenho em relação à tecnologia da OpenAI.

O Google está lançando o modelo em vários tamanhos, e o menor pode ser usado em dispositivos móveis, informou a empresa.


Fonte: O GLOBO