Crianças representam nova face de uma Coroa que tenta se modernizar e conciliar tradições anacrônicas com realidade do século XXI

Os três filhos do príncipe William e da princesa Catherine foram a cota de fofura da coroação do rei Charles III, que aconteceu neste sábado. George, de 9 anos, foi pajem do avô. Charlotte, de 8 anos, e Louis, de 5 anos, entraram de mãos dadas e, mais tarde, acenaram efusivamente na sacada do Palácio de Buckingham. Mais qual papel terão na nova era carlotina?

O trio será preparado para dar prosseguimento à monarquia — George, em particular, é treinado desde que saiu do útero para um dia ser chefe de Estado. A tendência é que o menino, de 9 anos, um dia percorra o mesmo caminho que seu avô, já que é o terceiro na linha de sucessão, atrás apenas de seu pai. Seus irmãos devem ser integrantes-chave da corte, trabalhando em tempo integral para a Coroa.

Mas, de início, as crianças devem ficar fora dos holofotes. Os três vão a escolas normais e raramente fazem aparições públicas, geralmente restritas aos grandes eventos familiares, como o deste sábado. Sempre, contudo, atraem muita atenção: são a face nova de uma instituição milenar e muitas vezes anacrônica, que tenta com alguma dificuldade se adaptar ao século XXI.

O respiro é importante para uma instituição que passa por uma crise existencial após a morte, em 8 de setembro do ano passado, da rainha Elizabeth II. Com um reinado de 70 anos, ela foi a soberana mais longeva da História britânica — ao fim, sua imagem se confundia com a da Coroa e com a própria identidade britânica.


Louis e Charlotte na coroação de Charles III — Foto: Andrew Milligan / AFP

Aos 74 anos, Charles tornou-se neste sábado o rei mais idoso a ser entronizado em seu país, realidade que diverge da tentativa de renovação que a instituição tenta com relativo sucesso implementar. Apesar de sua popularidade ter aumentado recentemente — uma pesquisa de quarta-feira do instituto YouGov mostra que 59% dos britânicos acreditam que ele será um bom rei, mais que os 32% de um ano atrás — há desafios.

Quase metade dos britânicos crê que o monarca está desconectado da realidade nacional, e só um terço dos súditos entre 18 e 24 anos prefere um rei a um chefe de Estado eleito por voto popular. O rei nunca teve a mesma popularidade de William, e por anos houve um movimento para que o trono pulasse uma geração — defendiam que Charles abdicasse a favor de seu primogênito.


Príncipe George, segundo na linha de sucessão ao trono, foi pajem do avô — Foto: Gareth Cattermole/AFP

Isso evidentemente não aconteceu, e o plano é que a era carlotina não seja apenas um interregno entre os 70 anos elizabetanos e William. Mas a imagem do príncipe e de sua família, jovens e benquistos pelos britânicos, deve ser explorada ao máximo pela instituição nos próximos anos, especialmente com a ausência de peso de Harry.

O filho rebelde e sua mulher, Meghan, divorciaram-se dos negócios reais em 2021, acusaram os parentes de racismo e se mudaram para a Califórnia. O relacionamento deteriorou-se para o que muitos dizem ser um ponto sem volta após a docussérie que o casal lançou no ano passado e a publicação da autobiografia de Harry neste ano — ambas relatando ad nauseam o mau relacionamento dos filhos do rei.

Quem sai por cima, contudo, foi o primogênito. Segundo a análise do YouGov feita no primeiro trimestre deste ano, William é o terceiro integrante da família real de maior popularidade, com o aval de 65% dos britânicos — a líder, com 80%, é sua falecida avô, seguida da princesa Anne, a única irmã de Charles. O quarto lugar, com 65%, é da princesa Catherine. Só então aparece o rei Charles.

Para achar Harry, é necessário ir ao pé da lista: apenas 29% dos britânicos dizem aprová-lo. O número só é maior que o de sua mulher, Meghan, com 23%, e o do príncipe Andrew, terceiro dos quatro filhos de Elizabeth II, com 11% — ele perdeu os títulos reais após ser acusado de estupro, que teria acontecido há mais de duas décadas, quando a suposta vítima era menor de idade. O príncipe fechou um acordo extrajudicial para evitar o julgamento.


Fonte: O GLOBO