Relatório da gestora britânica Janus Henderson Investors mostra que endividamento do governo aumentou 4,7% no ano passado. Na América Latina, Brasil só perde para a Argentina

A dívida pública geral do Brasil aumentou 4,7% em 2022, para R$ 7,29 trilhões, o que coloca o país no topo do ranking em relação aos vizinhos da América Latina e na décima primeira posição na comparação global. É o que mostra a terceira edição do Índice de Dívida Soberana, produzido pela gestora britânica Janus Henderson Investors e antecipado ao GLOBO.

A dívida brasileira por pessoa no ano passado estava próxima de US$ 6.675, cerca de R$ 33,3 mil, segundo o relatório. O trabalho mostra ainda que o custo dos juros sobre a dívida aumentou em um terço como resultado dos patamares elevados da Taxa Selic, a taxa básica de juros, que serve de referência para a remuneração dos títulos da dívida pública brasileira.

O índice de dívida em relação ao PIB do Brasil está em 76%, em linha com a média global. Entretanto, é alta para os padrões das economias emergentes, ficando atrás apenas da Argentina, com 85%, entre os países do Índice. A gestora reconhece que a recente disparada da inflação e a desvalorização expressiva do peso no país vizinho dificulta a comparação.

De acordo com o relatório, espera-se que os pagamentos de juros no Brasil aumentem em cerca de um sexto em 2023. Ontem, o Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano, o maior patamar desde novembro de 2016.

Segundo os dados do Banco Central, a dívida bruta do país fechou 2022 representando 73,5% do PIB. De acordo com o BC, a dívida bruta – que compreende o governo federal, INSS, governos estaduais e municipais – equivalia na época a R$ 7,2 trilhões.

A Janus destaca que para permitir a total comparabilidade entre diferentes conjuntos de dados, todos eles estão em dólar nominal (ou seja, não ajustados para a inflação).

Época dos juros baixos ficou para trás

O relatório destaca que desde a crise financeira de 2008, os governos tomaram empréstimos com mais liberdade. Com isso, os níveis de dívida aumentaram em 117% em um cenário no qual a economia global se expandiu em 56%. Mas se antes os juros estavam baixos, principalmente em economias desenvolvidas, o cenário mudou com os efeitos inflacionários decorrentes da pandemia.

A inflação passou a avançar diante das rupturas nas cadeias de suprimentos, ao aperto nas condições do mercado de trabalho, e pelo aumento dos preços de energia. Além disso, os países viviam em um período marcado pelo excesso de liquidez diante da postura menos rígida por parte dos bancos centrais pelo mundo.

Com a alta da inflação, os bancos centrais passaram a elevar os juros, o que tem impacto direto nos custos do financiamento dos próprios governos.

“Isso causou um grande aumento no custo dos empréstimos, uma vez que os bancos centrais de todo o mundo aumentam as taxas de juros para conter a aceleração dos preços”, destaca o relatório.

Na avaliação da Janus, a economia global deve entrar em recessão, o que significará em uma reversão do processo de alta de juros à frente.

Dívida global recorde

No contexto global, a dívida pública dos países aumentou 7,6% em 2022 e atingiu um recorde de US$ 66,2 trilhões, com os Estados Unidos responsáveis pela metade desse aumento.

A dívida global por pessoa foi de US$ 13.525 em 2022. Esse valor representa um acréscimo de US$ 3.264 maior do que antes do início da pandemia. Já na relação entre endividamento público e PIB, o índice global melhorou em um ponto percentual, caindo para 78%, graças ao rápido crescimento econômico.

De acordo com a gestora, os juros pagos sobre dívida soberana atingiram recorde de US$ 1,38 trilhão em 2022, em um contexto de bancos centrais de economias desenvolvidas elevando as taxas pelo mundo.

“As taxas de juros próximas de zero e os enormes programas de flexibilização quantitativa dos bancos centrais possibilitaram uma expansão grande da dívida pública, mas os detentores de títulos agora estão exigindo retornos mais altos para compensá-los pela inflação e pelos riscos crescentes, e isso está criando um ônus significativo e crescente para os contribuintes. A transição para condições financeiras mais normais está se mostrando um processo doloroso”, destaca em nota, o diretor global de renda fixa da Janus Henderson, Jim Cielinski.

Recessão no horizonte

Segundo a gestora, até 2025, a taxa de juros efetiva paga sobre empréstimos dos governos provavelmente aumentará de 2,2% em 2022 para 3,8%, à medida que os títulos forem refinanciados ou novos sejam emitidos.

Nesse cenário, os custos de juros dos governos consumirão 2,8% do PIB global em 2025, quase o dobro da média dos últimos dez anos. Os custos de juros em 2025 devem ser de US$ 2,80 trilhões, o dobro do total de 2022, custando a cada cidadão em média US$ 288 adicionais por ano nessa época

A dívida global em 2025 deve aumentar em um sexto, para US$ 77,2 trilhões, mas a economia global também crescerá em termos nominais (ou seja, incluindo o efeito da inflação), portanto, a dívida aumentará apenas um ponto percentual, para 79% do PIB global.

A gestora obteve dados sobre a dívida governamental, PIB, pagamento de juros da dívida e déficits orçamentários da Economist Intelligence Unit (EIU, na sigla em inglês), a divisão de pesquisa e análise do Economist Group. A Janus complementou os dados de fontes de cada país, quando necessário.

Os países do índice de Janus Henderson representam no seu conjunto 88% do PIB global e dois terços da população mundial.


Fonte: O GLOBO