Policial da 3ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo registrou boletim de ocorrência por ofensas recebidas após desistir de se encontrar com empresário

A delegada responsável por uma das investigações que tiveram como alvo Thiago Brennand aceitou ir a um jantar com o empresário e depois, ao recuar, passou a receber ameaças do homem, hoje preso preventivamente sob acusações de crimes como estupro, agressão e cárcere privado.

A delegada Dannyella Gomes Pinheiro, da 3ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM Oeste) de São Paulo, instaurou um inquérito em 29 de janeiro de 2021 para investigar suposta agressão de Brennand ao filho menor de idade, que havia relatado à mãe ser vítima de maus tratos, cárcere privado e violência psicológica.

Brennand foi intimado a prestar depoimento em 11 de maio do ano passado, uma quarta-feira. Foi interrogado pela delegada Dannyella na ocasião. Passado pouco mais de um mês, a policial registrou um boletim de ocorrência contra o empresário, ao qual O GLOBO teve acesso, no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Dannyella narrou que conheceu Brennand “em 11 de maio, no período da tarde, sendo que os dois conversaram profissionalmente por aproximadamente 20 minutos”. Ela não menciona que havia tomado o depoimento do empresário num inquérito em que ele era investigado.

Segundo a delegada, naquela data eles trocaram números de telefone e passaram a conversar por mensagens, já à noite. “Marcaram um encontro para o sábado, dia 14 de maio, no período da noite”, disse Dannyella, que continuou a falar com Brennand por mensagens no dia seguinte, quinta-feira.

Mas, na sexta, Dannyella recuou e disse a Brennand “que achava melhor cancelarem o encontro marcado para o dia seguinte”. O empresário então continuou a enviar mensagens à delegada por quatro dias seguidos, algumas delas com ofensas, chegando a citar a existência de suposto “relacionamento” entre eles.

Dannyella disse que cerca de um mês depois, em 20 de junho, Brennand afirmou que iria à delegacia onde ela trabalha e ameaçou acionar a Corregedoria da Polícia Civil para prejudicá-la caso ela se recusasse a recebê-lo.

"Comigo ele sabia onde estava pisando"

A delegada registrou o boletim de ocorrência no DHPP dois dias depois, em 22 de junho. Ela, porém, não fez uma representação contra Brennand, o que impossibilitou a abertura de um inquérito contra ele.

— Sou uma vítima como todas as outras do Brennand. Mas comigo ele sabia onde estava pisando, ele puxou o freio de mão. Ele primeiro foi super educado comigo, eu aceitei ir ao jantar, mas logo percebi que não batia comigo. Registrei o boletim de ocorrência para me resguardar, e não representei contra ele porque as importunações pararam — disse a delegada ao GLOBO, assegurando que não voltou a se encontrar com Brennand e que não houve qualquer favorecimento ao investigado.

O caso da agressão ao filho do empresário passou a ser presidido por outra delegada, Wanessa Miranda Ferreira, assistente de Dannyella, em 17 de maio — portanto três dias depois da data em que Danyella e Brennand haviam marcado um encontro.

O relatório final da investigação da 3ª DDM foi finalizado no dia anterior, em 16 de maio. É a delegada Wanessa que o assina.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recomendou alguns dias mais tarde, em 29 de maio, o arquivamento do inquérito “por não haver indícios de conduta dolosa ou culposa por parte do averiguado”. A recomendação assinada pela promotora Gabriela Carvalho de Almeida Estephan foi acatada pela Justiça em 22 de junho, quando o inquérito foi arquivado em definitivo.


Fonte: O GLOBO