Verônica Coelho adianta como será o projeto no pré-sal na Bacia de Campos. Brasil já está entre os três maiores mercados internacionais da empresa norueguesa

Maior fornecedora de gás na Europa, a Equinor se prepara para aumentar sua presença na indústria de energia no Brasil. A petroleira é operadora de um megacampo de gás no pré-sal da Bacia de Campos, o BM-C-33, e tem como sócios Repsol Sinopec e Petrobras. 

Juntas, as empresas vão investir US$ 9 bilhões no projeto, que entra em operação em 2028, com capacidade de produzir 15% da demanda de gás prevista no país ou o suficiente para abastecer São Paulo.

Veronica Coelho, presidente da Equinor Brasil, ressalta que o empreendimento é o de águas mais profundas a ser desenvolvido no país, com 2.900 metros de lâmina d’água (distância da superfície ao fundo do mar). Além disso, será o primeiro no Brasil a contar com o processamento do gás em alto-mar, o que reduz custos e agiliza a operação. 

Veronica diz que a estratégia de atuação no país é de longo prazo, mas lembra que a indústria conta que o imposto sobre exportações de petróleo anunciado pelo governo com prazo de quatro meses será temporário. “O importante é evitar surpresas. Passa pela nossa agenda a construção de confiança mútua”, afirma.

Quanto vão investir no BM-C-33, esse megacampo de gás?

Conseguimos junto com nossas parceiras, Repsol Sinopec e Petrobras, chegar ao valor de investimento no BM-C-33, que engloba as descobertas de Pão de Açúcar, Gávea e Seat, na Bacia de Campos. Temos 35% da licença, assim como a Repsol. A Petrobras tem 30%. 

São esperados investimentos de US$ 9 bilhões, que começam a partir da assinatura dos contratos de execução. 

O projeto tem capacidade de 16 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Estimamos que esse volume, quando entrar em produção, em 2028, vai representar 15% da demanda esperada de gás no Brasil. Seria toda a demanda de gás de São Paulo em 2028. É um projeto muito relevante para garantir segurança energética.

O que diferencia o projeto?

Todos os poços vão ser conectados ao FPSO (navio-plataforma), que vai ter uma planta de tratamento de óleo condensado. Ele terá capacidade de processamento de óleo de 125 mil barris por dia. Além disso, a gente vai ter uma planta de processamento de gás na plataforma de produção offshore (no mar). É a primeira vez que isso vai ser feito no Brasil. 

E isso vai permitir que a gente escoe para a terra o gás já especificado para venda (por meio de um gasoduto). Ou seja, não vai precisar de UPGN (unidade de processamento de gás natural) em terra.

O FPSO estará conectado a um gasoduto de 200km, que vai chegar a Macaé na altura de Cabiúnas. O projeto tem reservas recuperáveis acima de 1 bilhão de barris de óleo equivalente. O potencial de geração de empregos é de mais de 50 mil diretos e indiretos em toda a cadeia de fornecedores no Brasil.

Há um desafio ambiental?

O FPSP é bastante inovador. Vamos usar a tecnologia do ciclo combinado para geração de energia, utilizando tanto turbina a gás quanto turbina a vapor, para maximizar o uso da energia. Com isso, vamos reduzir a pegada de emissões de carbono. Vai ser o FPSO mais eficiente do mundo, com perfil médio de emissão de menos de 6kg de CO² por barril de óleo equivalente, enquanto a média da indústria é de 16kg a 17kg de CO² por barril de óleo equivalente.

A busca por redução de emissões deve se tornar tendência entre as petroleiras, que agora buscam ser empresas de energia?

Temos a ambição de ser líderes no processo de transição energética e isso passa por otimizar o portfólio de óleo e gás, continuar com investimentos e produzindo hidrocarbonetos. Vamos expandir nossa presença em energias renováveis e soluções de baixo carbono. 

O mundo ainda vai demandar petróleo por muitas décadas, mas os projetos sustentáveis do futuro vão ser os resistentes a variações de preço, com baixo custo, e resilientes em termos de emissão de carbono. É um caminho sem volta. Queremos ter emissões neutras em 2050.

No início do ano, o governo anunciou a taxação por quatro meses de exportações de petróleo com alíquota de 9,2%, mas o Congresso pode tornar isso permanente. Qual é o impacto para a empresa?

É um impacto importante para a indústria inteira. Acreditamos que, como tem sido indicado, é um imposto temporário. Portanto, quando o BM-C-33 entrar em produção, não terá esse impacto mais. O importante é evitar surpresas. Passa pela nossa agenda a construção de confiança mútua. E o investidor precisa de previsibilidade e estabilidade de regra no longo prazo.

O primeiro campo do pré-sal desenvolvido por uma multinacional é operado pela Equinor, o de Bacalhau, na Bacia de Santos. Foi comprado da Petrobras em 2016. Mas oportunidades como essa podem não se repetir, já que o governo decidiu rever a política de venda de ativos. Isso afeta a estratégia da companhia?

A gente tem visão de longo prazo no Brasil. Nossa presença aqui é permanente devido à credibilidade e confiança que a gente tem no país, como investidores, em relação a aspectos como segurança jurídica e dos contratos, previsibilidade e estabilidade das regras. É comum ter ajustes pontuais. Quando a gente olha para frente, nossa estratégia continua a mesma. No portfólio da Equinor, o Brasil é um dos países prioritários para investimentos. Está entre os três países na área internacional que a empresa tem maior presença.

Na semana passada, a Transpetro anunciou que quer voltar a construir navios no país. Existe espaço para a indústria nacional entrar em um projeto como o do BM-C-33?

A indústria nacional é muito competitiva em várias partes, equipamentos e serviços demandados em um projeto dessa natureza. Temos como política utilizar o mercado local que seja competitivo em questões de prazo e preço para maximizar a geração de valor local em todas as fases do projeto. Existem diferentes partes da cadeia de valor aqui no Brasil que são muito competitivas.

Quais são os investimentos em energia renovável?

Há um projeto de energia solar no Ceará, em produção desde 2018. Estamos construindo uma segunda planta no Rio Grande do Norte. E estamos em busca de mais.

A Equinor tem larga experiência no setor. Temos interesse em trazer essa experiência para cá. Precisamos interagir com autoridades e parceiros para aprimorar o arcabouço regulatório, ter segurança jurídica para tomar decisões de investimento. Precisamos ver se temos projetos competitivos do ponto de vista do custo e do preço. Temos ambição global de até 2030 investir 50% de tudo em energias renováveis.

A Equinor acaba de trazer ao país uma empresa comercializadora, que vende energia no mercado livre. O que isso indica?

É um sinal de que a gente está se preparando para mais. Estamos nos preparando para entrar de forma mais concreta e robusta nesse mercado.


Fonte: O GLOBO