Ministério da Justiça afirma que governo húngaro é soberano para decidir qual solicitação é prioritária. Ao todo, 160 foragidos brasileiros foram extraditados entre 2020 e 2023

Além da Bélgica, para onde será levado, o traficante internacional de drogas Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como o "Pablo Escobar brasileiro", teve ainda outros dois pedidos de extradição feitos ao governo húngaro por Brasil e Estados Unidos, segundo o Ministério da Justiça. 

A pasta brasileira diz que formalizou o pedido no dia 18 de julho do ano passado, mas ressaltou que entende que a Hungria é soberana para decidir qual dos três pedidos deveria ser cumprido prioritariamente.

A pedido do GLOBO, o Ministério da Justiça informou ainda que o governo brasileiro conseguiu a extradição de 160 foragidos entre 2020 e 2023. Foram 27 repatriados em 2020, 60 em 2021, 40 em 2022 e, até agora, já foram extraditados 33 foragidos para o Brasil este ano. 

Caso recente e de grande repercussão foi o do empresário Thiago Brennand, que teve o pedido de extradição aceito pelos Emirados Árabes Unidos, e cumprirá no País os cinco mandados de prisão expedidos contra ele por crimes como estupro, agressão e cárcere privado denunciados por mulheres.

Entenda o caso

Um prenda-me se for capaz à brasileira. Preso desde junho do ano passado na Hungria após driblar buscas no mundo inteiro adotando 10 identidades diferentes, o “Pablo Escobar brasileiro” pode, enfim, ser extraditado e julgado no Brasil.

O ex-PM assumiu muitas versões ao longo dos anos, entre elas a de empresário do Suriname, e acabou capturado com identidade mexicana. 

O major, que só foi expulso da corporação cerca de 12 anos após sua primeira condenação, ganhou o apelido do narcoterrorista colombiano, cuja história já foi contada em filmes e séries de TV, graças ao feito criminoso de ter mandado 45 toneladas de cocaína da América do Sul para a Europa entre 2017 e 2019, sobretudo explorando brechas dos portos de Natal (RN) e de Paranaguá (PR).

O ex-PM assumiu muitas versões ao longo dos anos, entre elas a de empresário do Suriname, e acabou capturado com identidade mexicana. 

O major, que só foi expulso da corporação cerca de 12 anos após sua primeira condenação, ganhou o apelido do narcoterrorista colombiano, cuja história já foi contada em filmes e séries de TV, graças ao feito criminoso de ter mandado 45 toneladas de cocaína da América do Sul para a Europa entre 2017 e 2019, sobretudo explorando brechas dos portos de Natal (RN) e de Paranaguá (PR).

Duas condenações

Na justiça brasileira, o traficante tem ao menos duas condenações. Em 1998, recebeu uma primeira pena de 15 anos por transportar 237,3Kg de cocaína e, em 2019, em novo julgamento, mais 15 por ter usado laranjas para movimentar R$ 60 milhões entre 2002 e 2007.

Ao ser preso em Budapeste, o major Carvalho estava tomando um café da manhã num hotel da capital húngara, onde estava hospedado, e apresentou um passaporte mexicano em nome de Guilhermo Diaz Flores. A prisão foi realizada com base num alerta vermelho da Interpol, emitido por um tribunal brasileiro, em novembro de 2020.

Naquele mesmo ano, ele vivia na Espanha sob o nome de Paul Wouter e se apresentava como um rico cidadão do Suriname que vivia numa luxuosa mansão de dois milhões de euros, em Marbella. Foi quando ele simulou a própria morte por Covid-19. A polícia, de acordo com reportagem do “El País”, suspeitou ao descobrir que a certidão de óbito era assinada por um esteticista.

O golpe do simulacro de morte de Paul Wouter foi a solução encontrada pelo traficante brasileiro para se livrar da justiça espanhola já que, em 2018, havia sido preso junto com outras 20 pessoas em alto-mar com duas toneladas de cocaína. No mesmo ano, ele pagou fiança e foi solto sem que se descobrisse sua verdadeira identidade. O ex-PM matou “Paul Wouter” para não ser descoberto.

Atualmente, o Brasil ocupa a oitava posição no ranking de procurados pela Interpol. São 96 brasileiros entre os 6.976 criminosos na lista vermelha. A maior parte deles é procurada por homicídios.

Na última semana, a Hungria autorizou a extradição do traficante na sexta-feira da semana passada. A decisão jogou luz de novo sobre uma dos casos mais intrigantes de mudança de lado: antes de virar traficante internacional, Sérgio Roberto de Carvalho era policial militar no Mato Grosso do Sul.

A saga está perto do fim, mas ainda indefinida. Além do Brasil, Bélgica e Estados Unidos também pediram que ele fosse extraditado. De acordo com o jornal português “Visão”, ele deve ser entregue primeiro à Bélgica, onde foi emitido um mandado de prisão contra ele por tráfico. Já nos EUA, responde por lavagem de dinheiro. Procurado, o Ministério da Justiça não informou se tenta trazê-lo direto para o Brasil.

Dez documentos

O disfarce de mexicano Flores não emplacou com a polícia húngara. O brasileiro foi desmascarado pelos investigadores que tiveram acesso a pelo menos 10 identidades falsas já usadas por ele. A análise das impressões digitais confirmou as suspeitas. Mesmo assim, para tentar evitar a extradição, a defesa do acusado alegou que o ex-policial sofria perseguições políticas no Brasil, onde não teria um julgamento justo.

Em fevereiro deste ano, o Ministério Público de Portugal também acusou 18 pessoas por ligação com Carvalho. Oito delas foram condenadas na semana passada. Entre os denunciados, está o empresário Ruben Oliveira, conhecido como “Xuxa”, que seria o líder português do esquema de Carvalho. A polícia portuguesa encontrou 12 milhões de euros em um endereço que o ex-PM mantinha no país.

Segundo o “Visão”, Sérgio Roberto tenta se casar, na prisão, com uma mulher ucraniana com quem mantém contato via Skype. Mas o matrimônio não teria ocorrido justamente por problemas relativos à documentação do preso.

A ordem de prisão de Carvalho foi emitida no âmbito da Operação Enterprise, que já permitiu o confisco de mais de R$ 500 milhões da organização criminosa. O GLOBO não conseguiu contato com a defesa do acusado.

Sérgio Roberto foi lotado na Polícia Militar do Mato Grosso do Sul. Ele foi afastado das funções em 1997 e apenas em 2010 foi finalmente desligado da corporação. Curiosamente, em 2015, ele solicitou a revisão dos benefícios de aposentadoria no período entre 2011 e 2015, o que totalizaria, com juros, R$ 1,3 milhão. O pagamento só não aconteceu poque a Justiça do Paraná conseguiu sustar o processo e sequestrou os valores.


Fonte: O GLOBO