Convite veio depois da Síria ser readmitida na Liga Árabe, em meio à reaproximação entre sauditas e iranianos

O presidente da Síria, Bashar al-Assad, foi convidado para o próximo encontro de cúpula da Liga Árabe, na Arábia Saudita — o primeiro convite desde o início da guerra civil no país, em 2011. A Síria foi readmitida, no domingo, na Liga Árabe, após 11 anos de suspensão por conta da repressão violenta aos protestos contra o governo que culminaram no conflito que já provocou mais de 500 mil mortes.

Bashar al-Assad recebeu o convite do rei saudita Mohammed bin Salman para participar da próxima reunião do grupo, no dia 19 de maio, em Jidá, por meio do embaixador saudita na Jordânia.

— A realização desta próxima cúpula na Arábia Saudita fortalecerá as ações árabes conjuntas — declarou o presidente sírio.

A Arábia Saudita e a Síria anunciaram, na terça-feira, a reabertura das respectivas missões diplomáticas em Riad e Damasco, após mais de uma década de ruptura. O presidente sírio conseguiu, recentemente, romper o isolamento diplomático, aproveitando uma onda de solidariedade provocada pela devastação do país, após o terremoto de fevereiro — que também atingiu a Turquia. 

O movimento também ocorre em um contexto mais amplo na região, com a aproximação entre Arábia Saudita e o Irã — que é um dos principais aliados sírios — mediada pela China. Recentemente, os dois países concordaram em retomar relações diplomáticas, que haviam sido interrompidas em 2016.

Reabilitação

Os chanceleres árabes decidiram por unanimidade, no domingo, reintegrar o governo da Síria à Liga Árabe, em meio aos esforços do governo sírio de arrecadação de recursos para a reconstrução das áreas destruídas pelos terremotos.

"As delegações do governo da República Árabe Síria voltarão a participar das reuniões da Liga Árabe", afirma o texto aprovado em uma reunião, a portas fechadas, na sede da organização, no Cairo.

Na ocasião, Damasco afirmou que deseja "dialogar" e "reforçar a cooperação" na região. O conflito na Síria provocou também o deslocamento de milhões de pessoas, em uma das maiores crises de refugiados da última década.

A Coalizão Nacional Síria, aliança de oposição, com sede na Turquia, considerou que a decisão significa "abandonar" os sírios, deixando os mesmos sem um "apoio árabe oficial".

Para o especialista Fabrice Balanche, Damasco conseguiu uma importante vitória diplomática. O especialista lembra que, em 2013, a oposição síria chegou a ocupar a cadeira de Damasco em uma reunião da Liga Árabe no Catar.

Em novembro de 2011, 18 dos 22 países da Liga Árabe decidiram pela suspensão do governo sírio, o que foi celebrado pelos países ocidentais e pela Turquia, mas criticado pela Rússia e por Irã, Iraque e Líbano, países aliados do governo sírio.

A reintegração da Síria à Liga Árabe ocorre em meio a uma investida diplomática chinesa na região, que possibilitou a retomada de relações entre sauditas e iranianos. A Arábia Saudita cortou relações com o Irã, em 2016, após manifestantes do país terem atacado a embaixada e consulados sauditas, em resposta à execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr em Riad. 

O anúncio da reconciliação, em 10 de março, surpreendeu a comunidade internacional, principalmente pelo papel dos chineses como mediadores. (Com AFP)


Fonte: O GLOBO