Com aumento anual de 17%, inquilinos buscam imóveis mais em conta ou dividir despesa. Na alta renda, procura por mais espaço dispara e preço também

Com alta do aluguel — em março, o aumento acumulado em 12 meses no país alcançou 17,18%, a maior variação desde dezembro de 2011, segundo o Índice FipeZAP+ — inquilinos já trocam imóveis por outros menores ou em bairros diferentes para reduzir despesa mensal, havendo aqueles que optam por dividir o aluguel com mais pessoas.

De outro lado, na ponta da alta renda, a corrida por imóveis mais espaçosos fizeram os preços de locação disparar. No segmento de residências, por exemplo, o aluguel de casas em condomínios classe A no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, mais do que dobrou na comparação com o pré-Covid, para cerca de R$ 35 mil, segundo dados da imobiliária On Broker.

Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi Rio, explica que o momento atual é uma espécie de “ressaca” pós-pandemia. Com a alta da taxa de juro e da inflação, as famílias adiam a compra de um imóvel, optando por manter investimentos com rendimento e fugindo de compromissos de longo prazo, como são os financiamentos habitacionais.

— Após a recessão anterior à Covid, houve freio em lançamentos. A construção se restringiu, e o estoque de imóveis foi sendo absorvido. Então faltam imóveis para o aluguel, sobretudo nas áreas de maior demanda. Com mais gente buscando a locação, os preços sobem. A depender, vai alavancando esse movimento de inquilinos mudando para imóveis menores ou mais baratos — explica ele, que também é diretor da imobiliária Apsa.

Em SP, alta de 14,43%

O panorama não é muito diferente em São Paulo. Levantamento feito pelo Sevovi-SP mostra que a alta de preço em 12 meses alcançou 14,43% em março. A maior procura é por imóveis compactos, fazendo da inflação do preço da locação de apartamentos de um quarto a mais alta.

— As pessoas estão voltando para os centros urbanos após a pandemia. Há um mercado mais aquecido pela retomada, busca por apartamentos mais compactos, principalmente de um e dois dormitórios, e bem localizados. Isso ajuda a reduzir o aluguel. E explica a alta de preço no bairro do Bom Retiro, por exemplo, a maior que registramos no aluguel — conta Vinicius Oike, economista do Quinto Andar.

Há aumento do valor de locação em mercados em que a pressão sobre os preços vem da direção contrária, diz ele. É o caso de Florianópolis, em Santa Catarina, para onde muita gente mudou pelo modelo de trabalho remoto, privilegiando a busca por qualidade de vida.

— A alta no aluguel ganhou força em 2022. Este ano, os preços vão continuar a subir, mas num ritmo menos intenso, já que a economia dá sinais de desaceleração — diz Oike.

A alta no aluguel no Rio acumulada em 12 meses alcança 11,6%, com a variação de março em relação a fevereiro praticamente estável. Olhando para os bairros, os aumentos nesse período alcançam 55% em Ipanema e 41,6% no Leblon, na Zona Sul.

São bairros em que a oferta é bem restrita e há alta demanda, conta o empresário. Tanto preço quanto falta de estoque de imóveis devem ser levados em conta na hora da negociação entre proprietários e locatários, explica Schneider.

O salto no aluguel alcança outros bairros. A carioca Stefany Martins, de 22 anos, precisou buscar novo endereço após o dono do apartamento em que morava com o marido ter decidido colocar o imóvel à venda. Então moradora do Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio, ela se assustou com o valor das unidades na região.

— Quando comecei a pesquisar novas opções, eu queria algo por perto, porque a localização me atendia bem. Mas os apartamentos que cabiam no meu orçamento eram terríveis — conta ela.

A solução foi buscar alternativas em outros bairros, mudando assim para um apartamento de tamanho similar ao que morava, mas no Méier. O preço do aluguel, porém, ficou mais caro em R$ 600.

— No geral, não me arrependo. Foi uma boa escolha, o apartamento é legal. Mas tenho que arcar com custos a mais por causa de uma mudança que não estava nos meus planos e os preços estavam mais elevados que da última vez que busquei apartamento, em abril de 2022 — diz Stefany.

Mais espaço à negociação

Na prática, porém, a avaliação de especialistas é de que os preços e reajustes têm sido negociados com maior frequência, privilegiando valores de mercado, como diz Daniele Souza, gerente de Locação da Precisão Empreendimentos Imobiliários, especializada em imóveis na Zona Sul:

— Há sempre negociação. Às vezes, (o locatário dá) um período de alívio. Mas já é visível a troca de imóvel por aqueles que não conseguem mais arcar com o aluguel. E a previsão é de continuar em alta.

Copacabana, continua Daniele, é o bairro com os preços de aluguel mais competitivos da Zona Sul. Na região como um todo, ela afirma haver alta demanda por imóveis a um preço de R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês, sobretudo para famílias que procuram localização próxima a escolas e a opções de transporte urbano.

Além da troca de imóvel ou de bairro, diz a especialista, há aqueles que optam por dividir o aluguel para reduzir a despesa. É o caso da estudante Geovana Vieira, de 22 anos. Desde julho, ela divide um apartamento com mais quatro pessoas em Copacabana, perto da estação Cardeal Arcoverde do metrô.

Condomínios de alto padrão

A estudante morava com o pai, que mudou para Portugal. Como ela queria continuar a morar no bairro, que é próximo do trabalho e da faculdade, optou por um coliving (habitação compartilhada) depois de perceber que um aluguel não caberia em seu orçamento.

— Recentemente, até pensei em sair de onde estou. Mas comecei a pesquisar aluguel para dividir um lugar com uma amiga e percebi que o ponto em que moro não tem apartamento por menos de R$ 5 mil. Não tenho como pagar isso — conta Geovana, que tem a ajuda do pai para bancar a despesa.

O aquecimento da demanda fez o aluguel subir inclusive na ponta em que é mais caro. Os anos de confinamento levaram diversas pessoas a trocarem o apartamento por uma casa. No Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, uma residência alugada a R$ 15 mil antes da pandemia sai agora por R$ 35 mil. Na Barra da Tijuca, nos condomínios de alto padrão, não sai por menos de R$ 50 mil, conta Nayara Técia, CEO do Grupo On Brokers.

— São imóveis perto da praia, buscados por empresários, artistas, jogadores de futebol. Cresceu a demanda de clientes vindos da Baixada Fluminense, pela facilidade de acesso trazida pela TransOlímpica. Muitos querem ter a experiência de alugar o imóvel para, depois, comprar — explica. — E, por ora, dinheiro bem aplicado rende mais. Dá para alugar uma casa milionária que, para ser comprada, exigiria descapitalização.

* Colaborou Luana Reis, estagiária sob supervisão de Glauce Cavalcanti


Fonte: O GLOBO