Mercado financeiro tinha expectativa de que nova regra para precificar combustíveis adotada no governo petista fosse mais dura do que a anunciada e pudesse impactar negativamente o caixa da companhia

Apesar da queda do petróleo no exterior e do anúncio de mudança na política de preços dos combustíveis, as ações da Petrobras fecharam em alta nesta terça-feira. As ordinárias (PETR3) subiram 2,24% para R$29,20, enquanto as preferenciais (PETR4) ganharam 2,49%, indo a R$ 26,30.

O economista da Valor Investimentos, Paulo Luives, explica que os papéis já estavam muito descontados porque acreditava-se que a paridade internacional seria completamente abandonada. Porém, a nova abordagem apresentada mostrou que os preços do exterior continuarão a ser considerados como um dos componentes. E os ajustes mais espaçados, em sua visão, já estavam precificados.

Além disso, a intenção demonstrada pela Petrobras de se tornar mais competitiva, adotando preços melhores que os de seus concorrentes, mas sem deixar de ter uma produção eficiente, passa a mensagem que a empresa está buscando proteger o seu marketshare (fatia de mercado).

— Precisamos entender como vai ser a prática. Porém, a princípio, a regra visa dar sustentabilidade financeira para a companhia e ainda olhar para os preços, o que é importante porque o petróleo é componente relevante da inflação.

Guilherme Karnal, assessor de investimentos da Ável, acredita que as ações subiram porque o mercado estava precificando anteriormente uma mudança que pudesse afetar negativamente o caixa da companhia.

— Hoje a Petrobras não atende ainda 100% da demanda de combustíveis. Implementando essa mudança, é possível ter um aumento do caixa, embora haja algum risco de desorganizar o setor — opina.

Analista da Mirae Asset que acompanha o setor, Pedro Galdi concorda. Segundo ele, o anúncio não foi “tão duro quanto se esperava”, o que refletiu na alta dos papéis hoje. Ainda sugere que as clientes da estatal, como Ipiranga, BR Distribuidora e Shell, possam passar a importar menos combustíveis em prol de priorizar aquisições na Petrobras.

Para os investidores, em sua avaliação, a mudança deve ser neutra.

— Acabou o PPI (política de paridade internacional), mas o preço internacional ainda é, de certa forma, referência — explica Galdi. — A Petrobras deve praticar preço diferenciado de combustível nos estados, dependendo da refinaria mais próxima, o que cria ambiente de competição. O mercado vai se adaptar.

Já Flavio Conde, da Levante Investimentos, opina que, no longo prazo, a alteração pode ser negativa para os investidores, gerando perda de receitas para a companhia, diminuindo o lucro líquido e, consequentemente, reduzindo a distribuição de dividendos.

O sócio da casa de análise Quantzed, Leandro Petrokas, não vê como totalmente benéfica a investidores a nova forma de calcular preços dos combustíveis, embora reconheça que pode ocorrer um acréscimo no caixa. A justificativa é a abertura de espaço para interferências e ingerências do governo.

Ele aponta que a divulgação de um fato relevante pela 3R Petroleum, informando que a produção do campo de Papaterra iria ser paralisada temporariamente, pode ter colaborado para o ganho dos papéis.

— Pode ter um pouco de influência dos investidores migrando da 3R Petroleum para a Petrobras, já que vimos as ações da 3R caírem forte hoje — avalia Petrokas. — De certa forma, acredito que a mudança na política de preços esmaga a concorrência e aumenta o caixa.


Fonte: O GLOBO