Prefeito Eduardo Paes volta a defender o protagonismo do terminal para que o Rio mantenha sua vocação de capital do turismo

Estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que o Rio de Janeiro perde R$ 4,5 bilhões por ano com a falta de uma operação coordenada entre o Galeão e o Santos Dumont. 

Para a entidade, limitar a capacidade do terminal do Centro do Rio a pouco menos de 10 milhões de passageiros por ano — como prometeu na sexta-feira o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França — significa apenas frear a expansão deste aeroporto.

Porém, “é insuficiente para recompor com agilidade o hub de voos internacionais e conexões domésticas que a segunda maior economia do país precisa”.

“Mais circulação de mercadorias pelos terminais de nosso estado significa mais empregos e mais arrecadação para os cofres públicos. E é dessa receita que saem recursos para investimentos em serviços para a população”, disse, em nota, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan.

Na véspera, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, defendeu novamente que o Galeão volte a ter protagonismo para que o Rio mantenha sua vocação de cidade global e de capital do turismo. Em um vídeo publicado numa rede social, ele diz que o Rio precisa de um aeroporto internacional e quanto mais os voos vão para o Santos Dumont mais o terminal da Ilha do Governador perde.

“Não podemos permitir que o Galeão seja destruído”, afirma Paes.

Segundo o prefeito, essa “defesa intransigente” pelo Galeão não tem a ver com o Santos Dumont: “O Santos Dumont é um charme e superconfortável. Mas há um limite de segurança. Ficam a ponte aérea, os voos para Brasília e outros lugares. Mas os voos domésticos precisam ter conexão no Galeão para atrair voos internacionais.”

O secretário de Estado de Turismo do Rio de Janeiro, Gustavo Tutuca, corrobora a defesa feita pelo secretário estadual da Casa Civil, Nicola Miccione, ontem, em entrevista ao GLOBO, de redução da capacidade de passageiros do Santos Dumont a 7,5 milhões ao ano. Era de 9,9 milhões até a última terça-feira, mas foi revisada pela Infraero, responsável pelo aeroporto, para 15,3 milhões.

— Esse número passado pela prefeitura é com base em um estudo. Então não há o que se questionar enquanto não houver números que indiquem um cenário diferente — disse.

Reunião no dia 24

Tutuca destaca que a recuperação do protagonismo do Galeão ajuda a economia do estado, não apenas o turismo.

— Se os visitantes tiverem dificuldade de acesso ao Rio, diminui a possibilidade de procura por outros destinos, impactando o turismo em todo o país. Mas não é só o turismo que perde com o esvaziamento do Galeão, mas a economia do estado de uma maneira geral. Quantos empregos foram perdidos e quantos novos postos de trabalho deixaram de ser gerados?

Da mesma forma, a secretaria municipal do Turismo, Daniela Maia, afirmou que o desequilíbrio entre os dois aeroportos prejudica não só a atividade turística do país, mas do estado como um todo.

— É ruim não só para o Rio de Janeiro, mas para o Brasil também. O Rio sempre foi a porta de entrada do país e esse desequilíbrio vem prejudicando muito o Galeão e a vocação turística da cidade e o próprio turismo nacional. Estamos perdendo muito economicamente. O passageiro tem que fazer várias escalas e no Santos Dumont, com chuva ou tempo nublado, os voos não saem, o que prejudica ainda mais a experiência do turismo.

Em outra postagem também ontem, o prefeito expôs números da atratividade do Rio para o turismo internacional. Segundo ele, a cidade é a maior receptora do país de turistas internacionais, mas, em 2022, cerca de 500 mil passageiros internacionais que vieram ao Rio tiveram que fazer conexão em São Paulo.

Paes diz ainda que o Rio tem voo direto só para 27 destinos domésticos, enquanto São Paulo tem 57; Brasília, 40; Belo Horizonte, 39; e Recife, 30. Cerca de 5 mil passageiros por dia têm que fazer pelo menos uma conexão para chegar ao destino, afirmou o prefeito.

“Este o maior número entre as 10 principais cidades brasileiras. BH, por exemplo, são 2.300 passageiros/dia; em São Paulo são 2.700. Isto é resultado da concentração de voos em um aeroporto estrangulado como o Santos Dumont”, disse Paes, ressaltando que o Galeão não tem mais conexão com Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba, mercados importantes para alimentar os voos internacionais.

O Ministério de Portos e Aeroportos informou que está marcada para o dia 24 deste mês reunião com o ministro Márcio França, o prefeito Eduardo Paes e o governador Cláudio Castro. Há divergência entre eles sobre o limite de passageiros do Santos Dumont. França defende ajustá-la para 9,5 milhões ao ano, nível que prevalecia antes da pandemia, e o governo estadual e a prefeitura querem 7,5 milhões.

Incentivos para o terminal

Segundo técnicos da pasta, os passageiros domésticos do Galeão não migraram para o Santos Dumont. No cálculo deles, foi o destino Rio de Janeiro como um todo que perdeu 7 milhões de passageiros no período pós-pandemia. A diferença é que, ao longo dessa fase, a movimentação em Santos Dumont se manteve entre 9 e 10 milhões de passageiros, enquanto a do Galeão caiu de 17 milhões em 2014 para 5,9 milhões em 2022.

Analistas no setor afirmam que a preferência dos passageiros e das companhias aéreas também determinam o movimento dos aeroportos.

— Os passageiros têm suas preferências e não vai ser por decreto que você vai mudá-las. As companhias aéreas sabem disso e alocam os voos onde a demanda é mais lucrativa — explica Alessandro Oliveira, especialista em transporte aéreo e professor do ITA.

Oliveira avalia que a relicitação dos dois aeroportos para um mesmo operador, como defende Paes, pode ser uma solução.

Júlio César Ribeiro Martins, sócio da consultoria aeronáutica AeroAction e ex-funcionário do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), afirma que seria necessária uma série de incentivos no Galeão, desde tarifas aeroportuárias mais competitivas para as companhias aéreas até meios de transporte mais eficientes para os passageiros, como metrô ou travessia marítima feita pela Baía de Guanabara.

— É preciso pensar em como estimular o Galeão.


Fonte: O GLOBO