Estatal avalia investir em unidades para produzir diesel verde. Estratégia é parte do plano de ampliar produção nacional de combustíveis

Com nova diretoria e prestes a ter o Conselho de Administração também renovado, a Petrobras já iniciou um ambicioso plano de ampliação da capacidade de suas refinarias. 

A estratégia inclui o investimento em unidades para produzir diesel 100% renovável e até a ampliação de escopo do polo Gaslub (antigo Comperj), em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, que será rebatizado e pode receber a produção de petroquímicos de segunda geração, como polipropileno, matéria-prima do plástico.

As discussões fazem parte dos ajustes que estão em curso no plano de negócios da estatal, explicaram dois diretores da estatal ao GLOBO. Aprovados os projetos, pode haver aumento do volume de investimentos previstos para a área que inclui refino e gás natural, que hoje está em cerca de US$ 9 bilhões até 2027.

— Nas primeiras deliberações feitas pela diretoria, fizemos uma revisão das propostas de diretrizes para o planejamento estratégico. O pré-sal continua sendo o carro-chefe. Mas tudo isso está alinhado com a transição energética — disse Claudio Romeo Schlosser, diretor de Comercialização e Logística da estatal.

A estratégia é parte do plano do governo Lula de interromper a venda de refinarias e aumentar a produção nacional de combustíveis. Tem duas vertentes. A principal envolve a construção de unidades onde serão produzidos apenas diesel 100% renovável, o diesel verde, a partir do óleo vegetal ou resíduo animal, como o sebo.

Segundo William França da Silva, diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, as discussões do novo plano de negócios envolvem a construção de unidades 100% renováveis no Gaslub e na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca, em Pernambuco. O plano atual, herdado da gestão do governo Bolsonaro, previa apenas o biorrefino na unidade de Cubatão.

Guinada no refino

O investimento marca uma mudança na estratégia em relação às refinarias. Nas gestões anteriores, a estatal tinha como meta vender oito unidades, após acordo feito com o Cade, que regula a concorrência no país. Entre as principais, a empresa se desfez das unidades da Bahia e do Amazonas. Perguntados, os diretores não comentaram sobre a venda de ativos e a política de preços da estatal.

Segundo os executivos, as novas unidades no Rio e em Pernambuco vão passar ainda pelas etapas de projeto conceitual, básico e de detalhamento. Só depois vai para licitação e construção.

— Estamos discutindo possíveis ampliações no parque que não significam necessariamente novas refinarias. Vamos reforçar a visão da Petrobras como alavancadora do crescimento desse país, reduzindo as desigualdades, reforçando a empregabilidade e investimentos — destacou Silva.

Segundo o diretor de Refino, os planos para o Gaslub — o antigo Comperj foi um dos símbolos do esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato e teve o projeto original reduzido — vão além da unidade de biorrefino. Estuda-se a “oportunidade” de aumentar o complexo em Itaboraí para produzir produtos petroquímicos de segunda geração, como polipropileno, ideia cogitada no primeiro governo Lula.

— Isso é uma oportunidade que estamos estudando. A região tem muito potencial. Vamos mudar o nome. Lá é um complexo maior. Hoje, o que tem no plano estratégico é a planta de gás natural da Rota 3, com capacidade de processamento de 21 milhões de metros cúbicos, e deve entrar em operação em meados de 2024. As obras já voltaram. Tem ainda a unidade de produção de lubrificante tipo 2 e uma nova térmica — listou Silva.

Schlosser destacou também que o Gaslub tem integração com a Reduc, a refinaria de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense:

— A Reduc é uma planta complexa, com uma variedade de produtos, e tem uma planta (Gaslub) onde você terá gás, lubrificantes e produção de hidrogênio. E isso cria oportunidades.

No Gaslub e na Rnest, a ideia é usar o hidrogênio gerado no tratamento do gás natural para processar o diesel a partir do óleo vegetal. Segundo cálculos, haveria uma economia entre US$ 500 milhões a US$ 800 milhões sem necessidade de construir uma unidade de produção de hidrogênio.

— A viabilidade do projeto fica melhor. Isso está dentro das diretrizes da adequação do parque de refino. Ou seja, vai investir menos, e o tempo de implementação é mais rápido — disse Schlosser.

Mercado sustentável

Outro pilar da Petrobras na área envolve a produção do chamado diesel R5, que contém 5% de conteúdo renovável (por meio do óleo de soja) na composição final do diesel fóssil. Hoje, a capacidade de produção é de 5 milhões de litros por dia na Repar, em Auracária (PR).

A meta é dobrar a produção até o fim do ano com a inauguração da unidade de coprocessamento em Cubatão. Há planos de investimentos similares em Reduc (RJ), Replan (SP), Regap (MG) e Rnest (PE). A produção pode chegar a 21 milhões de litros por dia entre 2025 e 2026.

Para rentabilizar o investimento, o plano é buscar empresas interessadas na compra do diesel renovável. A exportação não está descartada.

— Buscamos parceiros e empresas (como distribuidoras) que tenham compromisso com sustentabilidade. Temos capacidade de produção— pontuou Schlosser.


Fonte: O GLOBO