Emmily Rodrigues, de 26 anos, morreu após cair do sexto andar de prédio na Argentina. Empresário e mulher que estavam no apartamento alegam suicídio, mas vizinhos relataram pedidos de ajuda antes da queda

Amigas de Emmily Rodrigues, brasileira de 26 anos que morreu em Buenos Aires na última quinta-feira após cair do sexto andar de um prédio, pedem justiça e dizem que a jovem foi agredida porque gritou pedindo socorro. 

Elas dizem que Emmily não usava drogas e nunca teve sinais de depressão, cuidava muito da saúde e era feliz com um namorado argentino com quem se relacionava há cerca de dois anos. Elas não acreditam na versão de que a brasileira, que era doce e amigável, teve um "surto" e se jogou da janela do apartamento. O imóvel é do empresário Francisco Saenz Valiente, que continua preso.

Em seu depoimento, Valiente, de 52 anos, alegou que a jovem estava alterada após ingerir bebida alcoólica e tentou pular pela janela que dava para a rua. Ao não conseguir destrancar a janela, procurou outra e se jogou no pátio interno do prédio. Já Juliana Mourão, de 37 anos, amiga que estava com Emmily, disse que a jovem e Valiente tiveram uma briga. De acordo com ela, que também é amiga de Valiente, a jovem brasileira chegou a agredir o empresário antes de cair.

Para as amigas, o mais provável é que tenha ocorrido uma tentativa de abuso e Emmily reagiu. Baiana de Salvador, a jovem foi trabalhar em uma agência de turismo para brasileiros em La Boca, quando chegou a Buenos Aires. 

Era independente e costumava sair com as amigas para jantar nos fins de semana. Ela teria ido ao restaurante Gardiner e depois encontrado, por acaso, com Juliana e Francisco no Isabel, outro estabelecimento, especializado em comida peruana, em Palermo. Lá, teria sido convidada para esticar a noite na casa do empresário, que é conhecido por promover festas.

Consultora de vendas, Joicy Claudia, amiga de Emmily há anos, conta que ela era muito controlada no uso de bebidas alcoólicas.

— Sempre que saíamos, a Emmily nunca bebia demais, ela nem gostava de cerveja. Ela tomava duas taças de champanhe e mantinha a postura. Ela sempre foi muito classuda. Ela era bem vaidosa e cuidava muito da própria saúde. Ela nunca cometeria suicídio. Isso é um caso de feminicídio — afirma Joicy Claudia, estudante de Gestão Empresarial.

Em depoimento à polícia argentina, Juliana Mourão afirmou ser amiga do empresário e de Emmily. Mas as amigas da jovem brasileira não conhecem Juliana. Há alguns dias, a jovem teria publicado, em seus stories em redes sociais, um texto dedicado à Juliana, formada em medicina, elogiando a amiga e a chamando de "minha doutora". 

Tanto Francisco quanto Juliana apresentavam lesões no corpo. A polícia da Argentina tenta decifrar o mistério da noite em que a jovem morreu e um dos principais pontos é determinar se houve uma briga antes da queda.

— Se o empresário ainda está preso, é porque a polícia argentina desconfia dele. Mas não sei por que Juliana está solta se ela também tinha arranhões pelo corpo — questiona Joicy.

De acordo com a agência de notícias Telám, Juliana tinha uma série de ferimentos nas mãos e arranhões. Já Valiente estava com marcas de "mordidas no corpo", conforme afirmou o canal A24, citando fontes próximas ao caso.

Estudante de medicina da Fundación Barceló, em Buenos Aires, a brasileira Manoelle Assunção Ravagani, de 29 anos, era muito próxima de Emmily e critica o fato de haver uma narrativa que tenta desqualificá-la por machismo. Ela diz que a jovem gostava de frequentar bons lugares, de conhecer gente nova e que tinha planos para o futuro de atuar no ramo de estética. Tinha feito um curso no país e pretendia abrir um salão de cabeleireira e de designer de unhas em Buenos Aires com uma amiga.

Emmily morava sozinha — embora frequentasse muito a casa de luxo do namorado — e pretendia abrir um negócio próprio. Apesar de circularem informações de que Francisco costumava contratar serviços de escort (protituição voltada para executivos), Manoelle diz que nunca soube que Emmily tivesse feito qualquer trabalho como garota de programa. Ela vê preconceito e misoginia nas tentativas de encobrir um caso de possível feminicídio. A estudante também diz que Juliana não tem boa reputação e seria conhecida por usar e vender drogas.

— A Emmily me dizia isso, que queria trabalhar no ramo de estética, desde que nos conhecemos. Vivia muito bem atualmente. Ela chegou a Buenos Aires junto com um namorado argentino, do qual ela reclamava, dizia que era maltratada e se separou. Nesse período, chegou a morar num quartinho, passou alguma dificuldade. 

Mas atualmente tinha um namorado que era muito bom para ela, que arcava com as despesas dela de aluguel e até tinha dado a ela uma cadelinha, a Channel — conta Manoelle, lembrando que recentemente Emmily tinha reunido as amigas num churrasco em Nordelta, uma cidade-vila de alto padrão a 30 Km da capital, na mansão do namorado, cenário de algumas fotos da jovem em redes sociais. 

— Lembro que ela me convidou e disse que não era para levar o "boy". Era muito comum esses encontros só entre amigas. Era isso que ela estava fazendo no dia em que morreu. Por um acaso, encontrou a Juliana e o empresário neste outro restaurante.

A polícia e o corpo de bombeiros da Argentina chegaram ao prédio onde tudo aconteceu depois que vizinhos ligaram relatando que uma pessoa teria caído do sexto andar após discussões e gritos de socorro. Manoelle diz que há vizinhos relatando que viu a mão de uma mulher na janela e aparentemente um homem a segurando.

Joicy conta que as amigas e parentes de Emmily fizeram um grupo em aplicativo de troca de mensagens para acompanharem as investigações. A amiga afirma que mãe de Emmily está na Argentina desde sexta-feira e aguarda a liberação do corpo da filha para sepultá-la no Brasil. O corpo ainda está passando por autópsia para determinar se a jovem brasileira pulou ou foi empurrada do sexto andar. Um advogado foi contratado por parentes e amigas para representá-los no caso.


Fonte: O GLOBO