Investigação da Polícia Federal apontou que a bagagem pode ter sido trocada, como parte de um esquema de funcionários terceirizados do Aeroporto de Guarulhos.

Nesta semana, as brasileiras Jeanne Paollini e Kátyna Baía fizeram um mês como detentas da penitênciária alemã JVA Frankfurt III — um período descrito ao GLOBO pela advogada do casal goianiense como de solidão. Elas foram presas preventivamente no dia 5 de março ao aterrisarem em Frankfurt durante uma escala para Berlim. 

Segundo as autoridades alemãs, drogas foram encontradas em suas malas, mas uma investigação da Polícia Federal aponta que a bagagem pode ter sido trocada, como parte de um esquema de tráfico internacional de funcionários terceirizados do Aeroporto de Guarulhos.

Erguida ainda no século XIX, a JVA Frankfurt III faz parte de um complexo penitênciário do estado alemão de Hesse. A unidade prisional é dedicada a detentas mulheres, presas em regime aberto ou fechado. Há departamenteos voltados para menores de idade e mães acompanhadas de seus filhos pequenos.

Segundo a advogada Luna Provázio, que atende o casal, as duas descreveram as celas como "muito pequenas", sendo todas individuais:

— Elas ficam presas cada uma em uma cela e não tem o suporte uma da outra, seja para dar apoio, ajudar a ter mais paciência, ou acolher quando uma está mais triste — diz a advogada, que tem sido um dos únicos contatos do casal com o Brasil — As duas só conseguem falar com as suas famílias muito raramente.

Uma das poucas oportunidades que o casal tem para se ver é no horário das refeições, que acontecem apenas duas vezes: no café da manhã e no almoço.

— Em relação a alimentação a gente pensa que o tratamento seria melhor, mais adequeado, mas não. Elas falam que elas tem acesso ao mínimo: a pão e ao almoço. Se quiserem jantar, elas tem que pagar — relata a advogada, antes de apontar que, aos finais de semana, os horários são mais controlados — Elas falam que não existe uma rotina predeterminada. Quando é final de semana o esquema é mais restrito, com menos tempo de banho de sol e socialização entre as presas.

Ainda segundo a Provázio, ao chegarem na prisão, ambas tiveram todos os bens confiscados e ficaram os primeiros dias sem roupas adequadas para enfrentarem o frio alemão. Quando aterrisaram em Frankfurt, por exemplo, os termômetros variavam entre 4ºC e 6ºC.

— No início, eles não deixaram elas terem acesso a roupa de frio, mas com o passar dos dias isso mudou — diz Luna Provázio.

A barreira linguística tem sido outro problema no dia a dia do cárcere, já que são poucas as outras pessoas no presídio que também falam português, segundo a advogada. De Goiânia, a personal trainer e a veterinária estão juntas a 17 anos e pretendiam viajar por diferentes países europeus ao longo do mês de março.

Entenda o caso

Nesta quinta-feira, o Ministério da Justiça afirmou,por meio de nota, que 'todas as informações' sobre as investigações da Polícia Federal, que revelou o esquema de funcionários do Aeroporto Internacional de Guarulhos para trocar a bagagem dos passageiros por malas com drogas, foram enviadas para a Justiça alemã. A documentação havia sido pedida pelas autoridades do país europeu para avaliarem a possibilidade de liberar Jeanne Paollini e Kátyna Baía.

"O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública já encaminhou todas as informações sobre as investigações brasileiras às autoridades alemãs", disse o Ministério da Justiça ao ser questionado se o inquérito traduzido para a língua alemã havia sido enviado ao exterior.

— A Polícia Federal produziu as provas e as encaminhou para a Justiça alemã. Só que hoje na audiência de custódia, tanto o juiz quanto o promotor falaram que da forma como foi feito não é o suficiente para eles — disse, nesta quarta-feira, a advogada Luna Provázio, que representa o casal de Goiânia, em um vídeo publicado em suas redes sociais.

De acordo com Provázio, a Polícia Federal havia envioado às autoridades alemães apenas fotos do inquérito e um relatório. O promotor e o juiz do caso em Frankfurt pediram para que, além dos vídeos, seja enviada a intégra do inquérito traduzida para o alemão.

Nesta terça-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação, intitulada “Iraúna”, para combater a ação dos criminosos em trocas de bagagem. Seis pessoas foram presas por suspeita de envolvimento.

Durante a investigação, os agentes identificaram o grupo que enviou 40 quilos de cocaína para a Alemanha por meio da troca de bagagens de passageiros. A ação do bando consiste em retirar a etiqueta da bagagem despachada e colocar em outra, que está com as drogas.

Ao serem abordadas, as brasileiras disseram não saber a origem da cocaína em suas malas e alegaram que as bagagens não eram delas. Segundo a Polícia Federal, “há uma série de evidências que levam a crer, de fato, que não há envolvimento delas com o transporte da droga, pois não correspondem ao padrão usual das chamadas ‘mulas do tráfico’”.

— Infelizmente as duas irão permanecer presas preventivamente em Frankfurt até que essas provas cheguem nas mãos da Justiça alemã. Nosso apelo é pela urgência, que seja dada celeridade pelas autoridades daqui do Brasil — disse a advogada da dupla.


Fonte: O GLOBO