Segundo advogado de acusado, que estava preso sob suspeita de feminicídio, a Justiça não viu elementos para mantê-lo detido e ordenou sua libertação imediata

O empresário Francisco Sáenz Valiente foi liberado nesta quarta-feira (19-04) da prisão, onde estava suspeito de feminicídio pela morte da brasileira Emmily Rodrigues, de 26 anos. A jovem caiu da janela do apartamento do acusado, no bairro de Retiro, em Buenos Aires, para onde tinha ido com amigas. 

De acordo com o jornal Clarín, o advogado do acusado, Rafael Cúneo Libarona, foi solto nas primeiras horas de hoje porque a Justiça considerou não haver base para manter a prisão, ordenando a imediata libertação.

Sáenz Valiente alegava que a queda foi acidental após o que teria sido, de acordo com ele, um surto psicótico de Emmily. Ela teria consumido drogas alucinógenas, de acordo com exames laboratoriais. A família da jovem, entretanto, diz que a brasileira não usava entorpecentes e que, de acordo com áudios obtidos pela polícia, gritou por ajuda pouco antes da queda. Também dizem que vizinhos teriam ouvido a jovem desesperada pedindo socorro antes de cair no pátio interno do prédio.

"Conseguimos a libertação há poucos segundos, o juiz (Martín) Del Viso ordenou pela falta de mérito tal como vínhamos pedindo. Decidiu pela falta de mérito por todos os delitos sobre os quais estava sendo acusado e determinou a imediata libertação", disse Libarona. "Ainda há muita coisa a explicar. A investigação fez um trabalho muito bom, o juiz tomou uma decisão acertada e o sistema judicial funcionou. Estou feliz pelo trabalho feito", completou.

O resultado da autópsia do corpo da brasileira Emmily Rodrigues, morta após cair de um apartamento da capital argentina, também é alvo de controvérsia entre a defesa do empresário Sáenz Valiente e da família de Emmily. Para os advogados de Valiente, não há ferimentos defensivos no corpo, análise que é contestada pelos representantes da família de Emmily.

— O perito que fez a autópsia, que é a única opinião que importa em termos científicos, concluiu que não há vestígios de lesões ou marcas de tipo defensivo — disse o advogado Rafael Cúneo Libarona, que defende Valiente, a agência de notícias Telám.

No entanto, para Ignacio Trimarco, advogado dos pais da jovem morta, o ferimento de número 18, como o machucado foi identificado na autópsia, é indicativo que a jovem tentou reagir a algum tipo de ameaça. O ferimento tem um padrão de "arraste", segundo o documento da autópsia obtido pelo jornal La Nacion.

A avaliação do médico legista que assina o documento, contudo, vai na direção contrária. "Em nenhuma das lesões descritas pode-se afirmar com rigor científico que se possam destacar lesões de 'defesa' (...) Dada a magnitude e a variedade das lesões descritas e, considerando a velocidade do impacto e a energia cinética que evoluiu para produzir a morte, impede-se seriamente essa diferenciação", escreveu o médico, segundo o jornal.

A autópsia apontou que a brasileira morreu de "politrauma" e "hemorragias internas e externas". Os ferimentos seriam coerentes com o resultado de uma queda do sexto andar de um edifício.

Entenda o caso

A brasileira Emmily Rodrigues Santos, de 26 anos, morreu na última quinta-feira depois de cair do sexto andar de um prédio no bairro do Retiro, em Buenos Aires, na Argentina. De acordo com a imprensa local, o apartamento de onde ela teria caído pertence ao empresário Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos, que foi preso e indiciado por homicídio. Ainda não está claro para as autoridades se a jovem pulou do apartamento, se teria sido jogada de forma proposital ou caído por acidente.

De acordo com o jornal Clarín, a Justiça argentina mantem em sigilosa e ainda não divulgou provas ou hipóteses sobre o caso. Ainda segundo os jornais argentinos "Clarín" e "La Nación", na quinta-feira Emmily jantou com o empresário e outros amigos. Depois do jantar, ela e pelo menos outras duas mulheres, uma brasileira e uma argentina, foram até o apartamento de Francisco. O corpo dela foi encontrado sem roupas no pátio do edifício.

No interior do imóvel, os investigadores encontraram garrafas de bebidas alcoólicas, sem sinais de drogas ou substâncias ilícitas. Segundo fontes policiais, o apartamento tinha diversos quartos e em todos foram encontradas roupas íntimas femininas. As camas também estavam desarrumadas como se tivessem sido usadas recentemente. Além disso, a polícia informou que Emmily estava nua quando caiu pela janela.

Moradores relataram à imprensa argentina que o empresário usava o endereço para festas "privadas com mulheres". Segundo os vizinhos, o apartamento as festas aconteciam "em qualquer dia da semana", informou a agência de notícias Telám.

De acordo com testemunhas, antes de a brasileira cair, foram ouvidos gritos vindos do local. Uma briga teria acontecido entre Emmily e o empresário, conforme apontam os relatos. A polícia vai apurar se Emmily se jogou ou foi jogada e, se o fez, em que contexto ela tomou a decisão.

Amigas da brasileira pedem justiça e dizem que a jovem foi agredida porque gritou pedindo socorro. Elas dizem que Emmily não usava drogas e nunca teve sinais de depressão, cuidava muito da saúde e era feliz com um namorado argentino com quem se relacionava há cerca de dois anos. Elas não acreditam na versão de que a brasileira, que era doce e amigável, teve um "surto" e se jogou da janela do apartamento.

Em atualização.


Fonte: O GLOBO