Operação de US$ 69 bilhões foi vetada por regulador britânico sob alegação de que unir dona do Xbox e criadora do jogo Call of Duty prejudicaria a concorrência

O maior negócio da indústria de games do mundo foi barrado nesta quarta-feira pelos reguladores britânicos. A compra da Activision Blizzard pela Microsoft, que envolveria um montante de US$ 69 bilhões, foi vetada sob alegação de que a união entre as duas empresas poderia prejudicar a concorrência no segmento de jogos em nuvem.

A Microsoft, fundada por Bill Gates, é fabricante dos consoles Xbox e mantém um serviço de assinatura na nuvem com enorme diversidade de jogos, o Xbox Game Pass. A Activision é uma desenvolvedora de games, criadora de títulos de grande sucesso como o Call of Duty, World of Warcraft e Guitar Hero.

Na avaliação da Autoridade de Competição e Mercados (CMA), órgão regulador do Reino Unido, o negócio poderia resultar em preços mais altos para os usuários, menor oferta de games para os consumidores e menos investimento em inovação no segmento.

A instituição disse que suas preocupações não poderiam ser equacionadas com remédios, como são chamadas medidas determinadas por órgãos antitruste para minimizar danos à concorrência.

Um desses remédios que chegou a ser cogitado seria a venda do game Call of Duty. Outras medidas cogitadas pela CMA envolveriam promessas para permitir que rivais oferecessem o jogo em suas plataformas, algo que a Microsoft começou a fazer, mas a instituição concluiu que isso também não seria suficiente para assegurar a competição.

Microsoft diz que vai recorrer

No esforço de obter a aprovação da transação, a Microsoft chegou a firmar, em fevereiro, acordo para levar uma série de jogos para plataformas concorrentes. Os games seriam disponibilizados para usuários do Nintendo por uma década. A empresa também assumiu o compromisso de disponibilizar seus jogos para o GeForce Now, serviço de games em nuvem da Nvidia.

No entanto, de acordo com o órgão regulador, a Microsoft não conseguiu demonstrar que não teria a intenção de tornar os games da Activision exclusivos para o assinantes do Xbox Game Pass.

Brad Smith, vice-presidente do Conselho de Administração da Microsoft e presidente executivo da empresa, disse que o grupo "permanece comprometido com essa aquisição e que vai recorrer".

A Activision disse em nota que a determinação "contradiz as ambições do Reino Unido de se tornar um pais atraente para negócios de tecnologia! e que a decisão é "um desserviço aos cidadãos britânicos". Em email aos funcionários, seu presidente-executivo, Bobby Kotick, afirmou que a decisão "está longe de ser uma palavra final neste acordo".

As ações da Activision caíam 11% no pré-mercado em Nova York.

Para analista, decisão é pá de cal no acordo

Apesar do anúncio de que a Microsoft vai recorrer da decisão, analistas veem a posição dos reguladores americanos como um fim ao acordo.

- Nunca houve um recurso bem-sucedido contra uma decisão do órgão antitruste britânico. Não parece que há um caminho a seguir para a Microsoft - disse Aaron Glick, estrategista de fusões e arbitragem na TD Cowen.

A decisão das autoridades britânicas antecede as de outras duas instâncias reguladoras em que o negócio está sendo analisado: a agência da União Europeia e a Federal Trade Commission (FTC), nos Estados Unidos. A China também precisa dar seu aval à operação, segundo a Bloomberg.

Investigação nos EUA

Nos EUA, a FTC já havia aberto um processo de investigação em dezembro do ano passado para barrar o negócio. Na época, o órgão americano lembrou que, após a compra da ZeniMax - dona da desenvolvedora de games Bethesda Softworks -, uma série de títulos passou a ser exclusivo dos usuários do Xbox.

A FTC frisou que isso aconteceu mesmo depois de a empresa de Bill Gates ter assegurado a autoridades antitruste europeias de que não vetaria a oferta desses títulos em plataformas rivais.

O prazo para a conclusão da compra da Activision é 18 de julho. O negócio foi anunciado em 22 de janeiro.


Fonte: O GLOBO