Inicialmente associado a uma substância sintética chamada 2C-B, termo passou a ser utilizado para comercializar uma mistura de cetamina com ecstasy

O resultado da autópsia da brasileira Emmily Rodrigues, de 26 anos, que caiu do sexto andar do apartamento de um empresário em Buenos Aires, capital argentina, indicou o uso de substâncias alucinógenas antes da queda, segundo informações do jornal Clarín, que teve acesso ao documento. A droga seria a popularmente conhecida como “cocaína rosa” ou “tusi / tuci”.

Pai de Emmily, Aristides Rodrigues, contestou, no início da noite de domingo (16) a informação do jornal argentino:

— Essa parte que identifica a presença de substâncias consumidas por Emmily não. Teve o resultado apenas dos acusados

O que é a 'cocaína rosa'?

Apesar do nome, atribuído devido ao aspecto de pó e à coloração rosa, o entorpecente não é ligado à cocaína. Inicialmente, os termos eram utilizados para se referir a uma substância chamada 2C-B, uma droga sintética estimulante e alucinógena criada ainda nos anos 1970 que promove efeitos semelhantes ao LSD e ao ecstasy.

O 2C-B, que gerou o nome "tuci” pela pronúncia em inglês do número 2 e da letra C, voltou a circular na última década em festas e boates, especialmente na região das Américas, quando ganhou o nome de “cocaína rosa”. No entanto, análises recentes mostram que a substância vendida hoje raramente é o 2C-B.

Segundo um relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, da sigla em inglês), amostras coletadas em diversos países da América Latina mostraram que, na realidade, a droga vendida sob o nome de “cocaína rosa” contém uma mistura de cetamina, um anestésico potente, com MDMA (ecstasy) e cafeína.

“Não está claro se os traficantes de drogas estão tentando imitar o estimulante e alucinógeno efeitos de 2C-B com essas combinações de substâncias. Assim, os usuários de “tuci” na América Latina podem não estar cientes de que a cetamina ou outras substâncias psicoativas podem estar presentes em produtos vendidos sob este nome, exacerbando os riscos à saúde associados ao seu uso”, destacou o documento.

— É importante desmistificar a “cocaína rosa”. No final, é um negócio em expansão. Eles estão vendendo como algo muito exclusivo, mas é um trifásico normal — explica Berta de la Vega, coordenadora da Associação de Bem-Estar e Desenvolvimento em Madri, capital da Espanha. O país também vive um crescimento do comércio da droga.

— Você pega um pouquinho de cada um, mistura, coloca o corante rosa, um cheirinho de morango e, voilà, você o vende por 100 euros — acrescentou em entrevista ao El País, lembrando que seria mais barato e seguro “comprar as substâncias e misturá-las você mesmo”.

Os principais riscos para o usuário da "cocaína rosa" dependem da proporção de substâncias na mistura, bem como das outras drogas com as quais é tomada. Por exemplo, se uma pessoa inalar a substância com alto teor de cetamina e também beber álcool, isso aumentará os efeitos depressores de ambas as substâncias, o que pode levar à perda de coordenação, sedação e desmaios. Se o ecstasy for o ingrediente principal, tomá-lo com álcool causa desidratação.

No caso de Emmily, a polícia investiga se a jovem cometeu suicídio após ingerir a droga ou se foi morta pelo empresário Francisco Sáenz Valiente, dono do apartamento, que está preso. Conforme o Clarín, Sáenz Valiente declarou que não ofereceu cocaína e “tuci” a ninguém, tanto em referência à vítima brasileira, quanto às outras três mulheres que a polícia descobriu também estarem no apartamento.


Fonte: O GLOBO