Empresário ligado ao agronegócio e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, o parlamentar foi acusado de xenofobia

Empresário ligado ao agronegócio e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, o vereador Sandro Fantinel (Patriota) deu declarações xenofóbicas contra baianos nesta terça-feira durante discurso em defesa de empresas agrícolas que contrataram trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão. 

As falas do parlamentar, que exerce seu primeiro mandato, ofenderam os baianos e "aquela gente lá de cima", em referência aos nordestinos.

Eleito com 1.756 votos, em 2020, o empresário, de 54 anos, define o "Escola Sem Partido" como um dos objetivos de seu mandato como vereador.

Nascido no distrito de Fazenda Souza, Fantinel chegou a se candidatar a deputado federal nas eleições de 2018, mas renunciou à corrida eleitoral para dedicar-se exclusivamente à campanha do então candidato à presidência. Em 2022, ele concorreu ao cargo de deputado estadual no Rio Grande do Sul, mas não foi eleito.

Fantinel é criador da Comissão Pró-Bolsonaro 2018, um grupo de apoio à candidatura do ex-capitão formado por empresários de direita. Nas redes sociais, o vereador tem fotos com o ex-presidente e posa com um fuzil.

Em postagem no Instagram do dia 2 de novembro, Sandro aparece em manifestação antidemocrática em frente à sede do Exército de Caxias do Sul.

O vereador também se envolveu em polêmica, em agosto de 2021, ao atacar a Constituição Federal e debochar da morte do deputado federal e presidente da Assembleia Constituinte, Ulysses Guimarães, em um acidente de helicóptero, em 1992.

"A Constituição Brasileira tem mais emendas do que a própria Constituição. (...) Ela nasceu morta. (...) É sinal de que ela não presta. A saída para o nosso país, infelizmente, é uma nova Assembleia Constituinte, porque com essa Constituição o nosso país está fadado ao colapso. (...) O funcionário público não tem culpa. Ele simplesmente está encaixado no sistema, um sistema que foi criado por corruptos, cujo um deles nem a graça de ser enterrado teve, porque se perdeu no mar, e o tubarão que dele se alimentou deve ter morrido", disse.

Acusação de xenofobia:

O parlamentar sugeriu nesta terça-feira, em discurso no plenário da Câmara Municipal, que agricultores e empresas agrícolas contratem trabalhadores argentinos que, segundo ele, são "limpos" e "corretos", e não mais "aquela gente lá de cima".

— Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam.

Fantinel afirmou que os baianos "vivem na praia, tocando tambor" e, por isso, "era normal que se fosse ter esse tipo de problema", em referência aos funcionários de vinícolas resgatados em uma empresa de Bento Gonçalves em condições análogas à escravidão.

— Em nenhum lugar do estado, na agricultura, teve um problema com argentino ou com um grupo de argentinos. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente — disse.

Sandro Fantinel ainda disse que os acontecimentos envolvendo trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves (RS) são "exagerados" e "midiáticos".

Ao GLOBO, o vereador de Caxias do Sul disse que foi "mal interpretado" e que deu as declarações "no calor da discussão". Ele ainda afirmou que pediu à Câmara para retirar sua fala dos anais.

— Fiz uma fala que foi um pouquinho infeliz. No calor da fala a gente diz coisas que depois se arrepende — afirmou o vereador. — Depois, no pequeno expediente, eu disse que eu jamais tenho alguma coisa contra os baianos, inclusive tenho amigos e primos que moram no nordeste, na parte mais norte do país. 

Não tenho absolutamente nada contra o povo baiano, citei (os baianos) porque estavam envolvidos no processo que está ocorrendo em Bento Gonçalves — afirmou o vereador, acrescentando que adora "as praias de lá", da Bahia, e que o "povo de lá é muito querido".

O parlamentar negou que tenha chamado os baianos de sujos, mas que estava se referindo à falta de limpeza em um alojamento que visitou em sua cidade.


Fonte: O GLOBO