Embarcações da classe Virginia são as mais modernas da Marinha americana e conseguem ficar mais tempo submersas do que as convencionais

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta segunda-feira um acordo histórico com o Reino Unido e a Austrália para dar a Camberra uma frota de submarinos de ataque de propulsão nuclear que os três países usarão para fortalecer suas forças navais e tentar conter a expansão chinesa na Ásia e na região do Pacífico. 

A iniciativa é resultado da parceria estratégica chamada Aukus — junção das siglas das três nações —, que estremece o tabuleiro geopolítico internacional desde seu lançamento em 2021, mas é cercada por incertezas que ameaçam seu sucesso.

Direto ao ponto: afinal, como funcionam esses submarinos?

A classe Virginia, também conhecida como SSN-774, é uma classe de submarinos de guerra da Marinha dos EUA que incorpora o que há de mais moderno em furtividade, coleta de inteligência e tecnologia de sistemas de armas;

Projetadas com o objetivo de buscar e destruir submarinos inimigos e navios de superfície, essas embarcações submarinas são movidas por um reator nuclear em vez de diesel ou eletricidade, o que faz com que possam permanecer mais tempo debaixo d'água;

Também são capazes de transportar múltiplas cargas úteis e realizar missões de inteligência, reconhecimento e vigilância (ISR), bem como disparar torpedos e mísseis de cruzeiro (longa distância);
Embora use energia nuclear para se locomover, a classe Virginia não é adaptada para transportar armas atômicas;

Esses submarinos contam ainda com um sistema de controle semelhante ao de aviões (Fly-by-wire), que faz com pequenos movimentos dispensem um operador humano, aumentando a velocidade das manobras e a capacidade de mudar rapidamente de curso;

Enquanto submarinos convencionais viajam a uma velocidade média de 6 nós (aproximadamente 11 km/hora), os da classe Virginia podem superar os 25 nós (aproximadamente 46 km/hora) devido à propulsão nuclear;

Sua sala de torpedos é reconfigurável, podendo ser desmontada para acomodar Forças de Operações Especiais e todos os seus equipamentos, mesmo em missões prolongadas;

Com 115 metros de comprimento, esses submarinos comportam uma tripulação de 132 membros, com sala para 15 oficiais, de acordo com a Marinha dos EUA;

Seu casco possui 10 metros de diâmetro e tem espaço para 12 tubos de lançamento vertical, 22 armamentos e quatro lançadores torpedo;

Por fim, em seu projeto, periscópios tradicionais foram substituídos por dois mastros fotônicos que hospedam câmeras digitais visíveis e infravermelhas no topo de braços telescópicos.

Primeiro grande passo

O anúncio foi o primeiro passo concreto da cooperação entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, que permitirá a britânicos e americanos expandir sua capacidade de produção dos submarinos a propulsão atômica, enquanto os australianos começarão do zero.

É a primeira vez também que Washington compartilha sua tecnologia de submarinos nucleares em 65 anos, desde que o fez com os britânicos durante a Guerra Fria — sinal de que sua política externa e de defesa voltam cada vez mais atenção para o Indo-Pacífico e para a contenção da China, vista por Washington como sua maior adversária em longo prazo.

Transferência de tecnologia

Pelo plano negociado há 18 meses, Camberra comprará dos americanos três submarinos a propulsão nuclear da classe Virginia, com a opção de adquirir mais dois, que serão entregues a partir de 2032. As firmas americanas já os produzem e correm contra o relógio para entregá-los a tempo. 

Em seguida, os australianos devem comprar uma nova classe de submarinos nucleares produzidos pelo Reino Unido, com tecnologia dos equipamentos da classe Virginia.

Em paralelo, funcionários do governo, executivos e engenheiros australianos aprenderão sobre o processo de construção com os parceiros britânicos e americanos. O objetivo é que produzam os submarinos por conta própria para sua própria Marinha na década de 2040, mas a transferência de tecnologia pode ser complicada por leis internacionais e americanas para evitar o tráfego de armas e o vazamento de informações sigilosas.

Alto custo

Os obstáculos, porém, não são poucos, e começam pelo dinheiro. Cada submarino a propulsão nuclear custa cerca de US$ 3,5 bilhões (R$ 18,35 bilhões), mais de 10% do Orçamento anual da Defesa da Austrália. Alguns críticos internos questionam o porquê de desenvolver um submarino completamente novo ao mesmo tempo em que serão comprados equipamentos dos EUA. 

Estimativas independentes apontam que o custo da empreitada pode chegar a 135 bilhões de dólares australianos (R$ 472,6 bilhões). (Com agências internacionais)



Fonte: O GLOBO