Segundo delegado responsável pela investigação, jovem de 13 anos relatou sofrer bullying

O aluno de 13 anos que matou uma professora e esfaqueou outras três na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste de São Paulo, planejava o ataque há cerca de dois anos e tentou comprar uma arma de fogo. 

As informações foram divulgadas nesta terça-feira pelo delegado responsável pela investigação, Marcus Vinicius Reis, do 34° Distrito Policial, e têm como base o depoimento do próprio estudante e também uma carta escrita por ele antes de cometer o ato infracional (nomenclatura dada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente aos crimes cometidos por menores de idade).

Intitulado “Carta de pedidos de desculpas” (sic), o bilhete teve o teor divulgado pela TV Record. No texto, escrito a mão e destinado à sua mãe, ao irmão, à tia e à avó, o jovem diz ter “guardado muita tristeza e ódio”. “Estou planejando isso desde os 11 anos. E não desistirei agora”, escreveu o jovem.

— Ainda estou bastante cauteloso quanto à motivação. O que ele disse é que ele sofreu bullying em três escolas em que estudou. Disse ter sido alvo de chacotas, ter sido molestado por outros colegas que falavam sobre a condição física dele, por ser franzino, e sobre o cabelo dele — afirmou o delegado, acrescentando. 

— Ele tinha a intenção de adquirir uma arma de fogo, fez algumas pesquisas via internet, e não conseguiu. Ele tinha um pedaço de tesoura, além da máscara, e disse que treinava os golpes em um travesseiro.

Uma das professoras esfaqueadas pelo estudante na segunda-feira, com golpes no braço e nas costas, Rita Reis prestou depoimento nesta tarde no 34º DP, na Vila Sônia. A docente disse que o aluno estava “tranquilo” quando a atacou, e que não o reconheceu de imediato por causa da máscara que ele usava no momento do ato. A docente, que descreve o jovem como “quieto” e “briguento”, disse ter dúvidas sobre a volta às salas de aula.

— Hoje, eu não consigo pensar em uma volta. Não consigo me ver numa sala de aula de novo. Achei que ia morrer, achei que ali era o meu momento — disse a professora Rita, lembrando também de sua colega, Elisabeth Tenreiro, que morreu no ataque desta segunda-feira: — A Elisabeth era divertida. Sabe uma pessoa divertida, que traz momentos bons? Era uma pessoa muito alegre.

Apreendido em flagrante e encaminhado para um centro de detenção provisório da Fundação Casa, o autor do ataque tinha um histórico de violência. Na quinta-feira passada, havia se envolvido em uma briga com outro estudante. Ele seria chamado a conversar com a diretora da escola na própria manhã de segunda-feira, quando acabou fazendo o ataque.

O jovem havia sido transferido para a Escola Estadual Thomazia Montoro neste mês, depois que uma funcionária de sua escola anterior, em Taboão da Serra, registrou boletim de ocorrência relatando “comportamentos suspeitos” do estudante.

A delegacia de Taboão informou, via nota distribuída pela Secretaria da Segurança Pública, que “determinou a oitiva das testemunhas e notificou a Vara da Infância e Juventude e o Conselho Tutelar do Município”, sem detalhar outras medidas.

— Ele já tinha todo um perfil de violência internalizado e que ainda não tinha sido efetivamente colocado em plena execução. A partir dos 11 anos ele já tinha uma ideia de fazer algo grave, de se contrapor a esse alegado bullying — declarou o delegado do 34° DP, Marcus Vinicius Reis.

A polícia ainda investigará se o estudante recebeu ajuda ou foi incentivado por outras pessoas. Segundo o delegado responsável, já foram identificados moradores de cidades do interior do estado que teriam interagido com o jovem via redes sociais. Essas pessoas podem ser intimadas a depor e possivelmente indiciadas por cooptação de menores.


Fonte: O GLOBO