Desempenho da atividade no ano surpreendeu analistas. Segmento de transportes impulsionou alta

Após contrair em outubro e novembro, o setor de serviços expandiu 3,1% em dezembro. O resultado levou a atividade a encerrar o ano de 2022 com alta recorde de 8,3%. É o que revelam os dados da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE.

O resultado veio acima do esperado pelo mercado. Analistas projetavam alta de 1,1% para dezembro e um crescimento de 4% na comparação anual, segundo mediana das 26 estimativas coletadas pelo Valor Data.

Em função do ajuste sazonal, o desempenho do setor em novembro e outubro foram revisados. A estabilidade em novembro passou para uma queda de -0,4%, enquanto o recuo de -0,5% em outubro foi ajustado para -0,7%

O setor de serviços, que reúne atividades voltadas às empresas e consumidores finais, representa 70% do PIB nacional. O desempenho da atividade no ano passado foi favorecido pela continuidade do processo de reabertura econômica pós-pandemia.

Houve normalização do funcionamento das atividades que dependem do contato presencial, como é o caso de salões de beleza, bares, restaurantes e outros serviços prestados às famílias.

Produção agrícola e retomada das atividades turísticas puxam alta

Não por acaso o segmento de transportes impulsionou a alta do setor no ano, com destaque para o ramo de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (13,3%), a principal influência para o resultado anual.

Em segundo lugar estão os serviços profissionais com alta de 7,7%, puxado pelas empresas de locação de automóveis, serviços de engenharia, soluções de pagamentos eletrônicos e organização, promoção e gestão de feiras, congressos e convenções. O segmento de eventos e festas viveu dois anos em um, com retomada de festas de casamento e aniversários até grandes congressos e feiras corporativas.

A terceira influência na lista fica com serviços prestados às famílias que cresceram 24%, puxada por segmentos como restaurantes, hotéis, buffet e catering.

O que diz o IBGE

Para o analista da pesquisa do IBGE, Luiz Almeida, a intensificação na retomada de serviços presenciais após o período de distanciamento social ao longo de 2020 e 2021 ajuda a explicar a expansão em 2022:

— O setor de transportes cresce desde 2020, mas com dinâmica diferente: inicialmente, por causa da área de logística, com alta nos serviços de entrega, em substituição às compras presenciais. Já em 2022, há a manutenção da influência do transporte de carga, puxado pela produção agrícola, mas também pela reabertura e a retomada das atividades turísticas, impactando o índice no transporte de passageiro — explica o pesquisador.

Fecha o campo das altas o setor de informação e comunicação, com crescimento de 3,3%. O único segmento a apresentar retração no ano de 2022 foi o setor de outros serviços (-2,1%), puxado pela menor demanda por serviços financeiros auxiliares como corretoras de títulos e valores mobiliários.

— Durante os períodos de isolamento mais severos, as famílias de maior renda, que participam mais desse segmento, realocaram o gasto para esse setor. Com a retomada pós-isolamento, a leitura é que a distribuição investimentos mudou, com uma realocação dos gastos familiares — explica Luiz Almeida.

O mês de dezembro foi marcado pelo avanço dos serviços financeiros auxiliares, atividades ligadas à arquitetura e à engenharia e transporte rodoviário municipal de passageiros. Segundo o IBGE, influenciaram o período as viagens de fim de ano ligado às férias, assim como uma influência do transporte de cargas via setor dutoviário, com influência do setor de óleo e gás.

Apesar de o setor como um todo estar acima do pré-pandemia, nem todos os segmentos superaram os efeitos da crise sanitária. Atividades como as de serviços prestados às famílias, alojamento e alimentação, informação e comunicação, telecomunicações e serviços audiovisuais ainda operam abaixo do patamar de fevereiro de 2020. Na outra ponta, já se recuperaram da pandemia o setor de TI, serviços técnicos e administrativos, transportes terrestre, aéreo, aquaviário e outros serviços.

O que esperar para 2023?

O ano de 2023, porém, tende a não ser tão animador para o setor de serviços, na visão de analistas. Isso porque a atividade econômica como um todo tem desacelerado. Há um esgotamento do consumo em meio aos juros altos e crédito mais caro.

Segundo Claudia Moreno, economista do C6 Bank, serviços mostraram ao longo de 2022 mais resiliência que comércio e indústria, que já vinham acusando os efeitos negativos da alta taxa de juros e da desaceleração da economia global.

— Assim como outros setores da economia, serviços também devem começar a sentir mais fortemente os efeitos tardios da elevação da taxa de juros e da desaceleração da economia global. Por isso, daqui para a frente, devemos ver serviços andando de lado ou até contraindo — avalia.

O Índice de Confiança de Serviços (ICS) do FGV IBRE caiu 2,7 pontos em janeiro, para 89,5 pontos, ficando no menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 89,2 pontos.

"O cenário para os próximos meses não parece ser facilmente revertido dado que as questões macroeconômicas envolvidas nessa desaceleração devem permanecer por algum tempo. A cautela dos empresários é percebida em suas projeções para o curto prazo com queda na demanda prevista, contratações e na tendência dos negócios para os próximos seis meses”, avaliou Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE.


Fonte: O GLOBO