Adesão do país é uma linha vermelha para Moscou; Finlândia quer acelerar processo sem esperar pela Suécia

A Ucrânia se tornará membro da Otan, mas "a longo prazo", disse nesta terça-feira o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, em resposta ao pedido de adesão de Kiev em plena invasão da Rússia. A adesão da Ucrânia é uma linha vermelha absoluta para Moscou, que usou a possível entrada para justificar sua invasão ao país, há um ano.

— Os países da Otan concordam que a Ucrânia se torne membro da aliança, mas ao mesmo tempo é uma perspectiva de longo prazo — afirmou Stoltenberg. — A questão agora é garantir que a Ucrânia continue sendo uma nação independente e soberana e, para isso, temos que apoiá-la. A guerra do presidente [russo, Vladimir] Putin na Ucrânia continua, e não há sinal de que ele vá mudar seus planos. Quer controlar a Ucrânia e não está se preparando para a paz, mas para mais guerra.

As declarações foram dadas durante a visita de Stoltenberg à Finlândia, outro país candidato à adesão. No calor da guerra na Ucrânia e temendo por sua segurança, a Finlândia, ao lado da Suécia, pediu para aderir à aliança e encerrar décadas de neutralidade militar.

No encontro desta terça, o secretário-geral da Otan afirmou ainda que "chegou a hora" de Turquia e Hungria ratificarem a entrada dos dois países nórdicos na Otan. Ambos são os únicos dos 30 membros da aliança militar que ainda não validaram a entrada.

— Tanto a Finlândia quanto a Suécia cumpriram o que haviam prometido em seu acordo trilateral com a Turquia em junho passado em Madri — insistiu o secretário-geral da Otan, ao lado da primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin.

Finlândia acelera entrada

O Parlamento finlandês começa nesta terça-feira a discutir o projeto de lei de adesão, embora ainda não tenha o sinal verde necessário de todos os países membros, que estão bloqueando, em particular, a entrada da Suécia. A maioria dos finlandeses (53%) quer ingressar na Otan sem esperar pelo país vizinho, de acordo com uma pesquisa publicada no início de fevereiro.

A Finlândia, onde a jovem primeira-ministra Sanna Marin disputará eleições legislativas de 2 de abril, quer evitar um vazio político para conseguir entrar na Otan assim que tiver o "sim" de Ancara e Budapeste.

A adesão tem apoio quase unânime dos partidos, incluindo aqueles que eram contra a Otan antes do início da invasão russa à Ucrânia. Em uma primeira votação, realizada em maio do ano passado, a entrada na aliança político-militar recebeu 188 votos a favor. Apenas alguns deputados de extrema-esquerda e extrema-direita votarão contra.

Na sequência da invasão russa da Ucrânia, a Finlândia e a Suécia decidiram virar a página de sua política de não alinhamento militar em vigor desde a década de 1990, herdeira de décadas de neutralidade.

Mas ainda falta o aval da Hungria, conhecida por suas posições mais ambíguas em relação a Moscou, e a Turquia, que quer se firmar como mediadora no conflito na Ucrânia e ao mesmo tempo busca resolver velhas disputas com a Suécia, principalmente por conta dos militantes curdos refugiados neste país.

O próprio Stoltenberg reconheceu, no início de fevereiro, que o mais importante não era a entrada dos dois países ao mesmo tempo, mas sim que ela ocorresse o mais rápido possível.

— Poderíamos separar o processo de adesão da Suécia e da Finlândia — disse o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Cavusoglu, na segunda-feira.

A aprovação da lei finlandesa não significa que o país entrará automaticamente na aliança militar assim que obtiver a ratificação da Hungria e da Turquia. Mas pelo menos estabelece um cronograma claro: após sua adoção, o presidente finlandês, Sauli Niinistö, tem no máximo três meses para assiná-la. Ele já adiantou que o fará "assim que for aprovado".


Fonte: O GLOBO