Mais de 65 mil pessoas, a maioria adolescentes e estudantes, participaram do encontro em estádio de Kinshasa

No terceiro dia da visita à República Democrática do Congo (RDC), o Papa Francisco fez um apelo nesta quinta-feira a milhares de jovens reunidos em um estádio de Kinshasa, capital do país, para que trabalhem por um futuro melhor e lutem contra a corrupção no país assolado pelo desemprego e a violência.

Ao som e ritmo dos tambores, cantos e danças tradicionais, o líder da Igreja Católica fez uma entrada triunfal no Estádio dos Mártires a bordo do papamóvel, acenando e abençoando a multidão. Mais de 65 mil pessoas, de acordo com os organizadores, participaram do encontro.

Diante do "tribalismo" e do "individualismo", Francisco pediu aos fiéis que priorizem a "comunidade" e os convidou a dar as mãos e respeitar um momento de silêncio, pensando "nas pessoas que os ofenderam". O Papa também criticou a corrupção, um problema grave no país.

— Todos juntos digamos: 'Não à corrupção' — disse.

Nas arquibancadas do estádio, milhares de adolescentes, estudantes, mas também adultos, cantaram e aplaudiram o Pontífice sob um intenso calor. Muitos usavam camisas ou bonés com a imagem de Francisco, o primeiro Papa a visitar o país desde João Paulo II em 1985.

— Você é indispensável e responsável pela sua igreja e pelo seu país. Você pertence a uma história maior que o convoca a ser ator — disse em uma mensagem aos jovens, em um país marcado por conflitos, desemprego e lutas pelo poder e onde quase 60% da população têm menos de 20 anos.

A visita, muito aguardada, foi marcada na quarta-feira pelo encontro do Papa com as vítimas da violência e o "apelo veemente" que expressou diante da "cruéis atrocidades" cometidas no Leste do país. O Pontífice também se declarou "indignado" com a "exploração sangrenta e ilegal da riqueza" da RDC, onde a violência dos grupos armados matou centenas de milhares de pessoas e provocou a fuga de milhões.

Apesar de suas vastas reservas minerais, a RDC é um dos países mais pobres do mundo, com quase dois terços de sua população vivendo com menos de US$ 2,15 (R$ 10,85) por dia, segundo o Banco Mundial. No Leste do país, área mais violenta, cerca de 120 grupos combatentes atuam nas províncias de Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri, de acordo com o Kivu Security Tracker, que documenta as violações dos direitos humanos na região.

A organização que está no centro da violência crescente no ano passado é o Movimento 23 de Março, ou M23. A RDC, as Nações Unidas e os Estados Unidos acusaram Ruanda de apoiar o grupo, o que é negado repetidamente pelo governo ruandês.

Os ataques do M23 escalaram após o governo congolês não honrar um acordo de 2009 que deveria integrá-los ao Exército. Como consequência, o grupo tomou cidades e vilas inteiras e, segundo ONGs de direitos humanos, também atacou áreas civis e militares.

— O M23 está matando muitos de nós no leste, gostaria que terminasse porque acontece há muito tempo — afirmou à AFP Sheila Mangumbu, de 21 anos.

O Papa, de 86 anos, que se desloca em uma cadeira de rodas devido às dores no joelho, deve se reunir nesta quinta-feira com o primeiro-ministro Jean-Michel Sama Lukonde na Nunciatura Apostólica, a "embaixada" do Vaticano na RDC. Depois comparecerá à catedral de Nossa Senhora do Congo, construída em 1947, onde pronunciará um discurso para padres e religiosos.

Como é habitual em suas viagens, o jesuíta argentino finalizará o terceiro dia da vista com um encontro privado com membros da Companhia de Jesus.


Fonte: O GLOBO