Na saída dele da prisão houve gritos de “ladrão” de pessoas que estavam no local, e algumas delas se aproximaram para bater no veículo.

Porto Velho, RO
- O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, 59, deixou a prisão na noite desta segunda-feira (19) para cumprir prisão domiciliar em um apartamento da família em Copacabana, na zona sul carioca, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, sua presença no prédio não agradou vizinhos, conforme noticiou a revista Veja.

Ciente da repercussão de sua soltura, o réu da Lava-Jato tem evitado ao máximo se expor. Quando deixou a cadeia, não falou com a imprensa e seu advogado afirmou que a prioridade era “ficar com a família”.

A estratégia da discrição, contudo, não impediu que a vizinhança descobrisse que teria companhia especial pelos próximos tempos. A notícia não agradou e uma tensão desabrocha nas redondezas. “Ninguém quer ele aqui. Alguns até dizem que, se o virem, vão jogar ovo”, diz uma funcionária de restaurante em frente ao novo e doce lar de Cabral.

Cabral é o último preso da Lava Jato a sair da cadeia. Ele deixou Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, por volta das 20h30, em um carro, sem falar com a imprensa. Houve gritos de “ladrão” de pessoas que estavam no local, e algumas delas se aproximaram para bater no veículo.


Filho comemora

Marco Antônio Cabral comemorou a chegada do pai, Sérgio Cabral, em seu apartamento. Em suas redes sociais, ele publicou uma foto, abraçado ao pai, e se mostrou orgulhoso: “Esses 6 anos te tornaram um homem melhor, mais preparado e mais forte!”, escreveu na legenda.

“Nunca carregou ódio de ninguém que tentou te diminuir, de ninguém que te crucificou e de ninguém que até hoje destila ódio pela boca. A história vai julgar cada um como deve ser julgado. Os algozes que nos fizeram passar por isso, estão aí”, escreveu.

De volta ao luxo

O ex-governador Sérgio Cabral não ficará muito tempo morando em Copacabana. Ele vai trocar os 80 metros quadrados do apartamento no Posto Seis, ao lado do Forte de Copacabana, pelo antigo endereço do Leblon, de 400 metros quadrados, onde foi preso em 17 de novembro de 2016. 

Embora não tenha a privilegiada vista, ele ganha mais espaço no endereço da Rua Aristides Espínola, na quadríssima do Leblon, para receber a família. Atualmente, o apartamento do Leblon está alugado, mas, como em janeiro vence o contrato de locação, o advogado do ex-governador informou ao GLOBO que ele deve se mudar em seguida.

Condenações somam 430 anos

Condenado a mais de 400 anos de prisão em 23 processos –que envolvem acusações de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes–, o ex-governador do Rio cumpria a última das cinco prisões preventivas impostas contra ele. Quatro já haviam sido derrubadas por decisões da Justiça.

Na sexta-feira, 16, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a decisão que faltava. Agora, a defesa informou que ele ficará em prisão domiciliar em um imóvel da família em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Ele será monitorado com tornozeleira eletrônica.

O ex-governador não poderá se ausentar de sua residência, exceto mediante autorização da Justiça, e só poderá receber visitas de parentes até terceiro grau, advogados e profissionais de saúde.

A Justiça ainda proibiu a visita de colaboradores da Justiça, de outros investigados, em especial da Operação Lava Jato, e a realização de festas ou eventos sociais na casa onde o ex-cacique do MDB cumprirá prisão domiciliar.

De acordo com um dos advogados de Cabral, Daniel Bialski, a soltura do ex-governador não é um “atestado de impunidade ou inocência”.

“A Justiça não pode ter dois pesos e duas medidas. Todos os outros condenados na Lava Jato foram colocados em liberdade muito antes. A soltura determinada agora não é uma declaração nem de impunidade, nem de inocência. Se decidiu que não tinha mais cabimento manter uma prisão preventiva de seis anos”, afirmou Bialski.

A defesa, que é formada ainda pelos advogados Bruno Borragine, Patrícia Proetti e Anna Julia Menezes, diz que está questionando a competência do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, em julgar os processos contra o ex-governador.

“Estamos questionando (a competência do juiz Marcelo Bretãs e do ex-juiz Sérgio Moro). Essa soltura é a última condenação da comarca de Curitiba. Todas as outras são aqui do Rio de Janeiro. Não se justifica todos os processos caírem na mesma Vara. Existe uma coisa no Direito que se chama juiz natural. A pessoa deve ser juntada por um juiz imparcial justamente para que não se tenha prejulgamentos ou uma predisposição para um lado ou outro”, diz Bialski.

O ex-governador cumpria prisão preventiva desde 2016. As prisões preventivas não têm prazo definido, mas devem ser revistas a cada 90 dias pelo juiz responsável. Elas podem ser determinadas para evitar interferências em investigações ou a continuidade de crimes, por exemplo.

A liberdade, no entanto, deve ser provisória ­ já há ações tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ), uma das últimas instâncias de recurso antes da decisão final sobre os processos que atingem Cabral.


Fonte: AMPOST