Magistrado foi o primeiro coordenador da Comissão Nacional da Verdade, que investigou crimes cometidos na ditadura militar

O ministro aposentado e ex-vice presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp morreu nesta segunda-feira, aos 78 anos. A causa da morte não foi divulgada.

Dipp integrou por 16 anos o STJ, onde ocupou as cadeiras de presidente da Quinta Turma e de vice-presidente da Corte, assim como do Conselho da Justiça Federal (CJF). Também foi membro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 2011 e 2013. Dipp atuou ainda como corregedor nacional de Justiça.

Um dos postos de maior destaque ocupados por ele foi o de coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Instalado em 2012, pelo governo de Dilma Rousseff (PT), o colegiado tinha a missão de investigar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, durante a ditadura militar.

Em 2019, em meio a uma polêmica criada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que classificou os documentos produzidos pela Comissão Nacional da Verdade de "balela", Dipp lembrou que o trabalho desenvolvido pelo grupo era assunto de Estado, não de governo.

"A Comissão Nacional da Verdade foi criada após amplo debate, com a participação de diversos atores da sociedade, inclusive das Forças Armadas", disse Dipp, na ocasião, ao jornal Valor Econômico.

Após se aposentar, ele passou a atuar na advocacia e manteve um escritório em Brasília. Nesse período, advogou para políticos que tiveram problemas com a Justiça como o ex-senador petista Delcídio do Amaral, investigado durante a Operação Lava-Jato.

Nascido em 1º de outubro de 1944 em Passo Fundo (RS), formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1968. Ele tomou posse como juiz do Tribunal Regional Federal da 4ª Região em 1989, corte que presidiu entre 1993 e 1995. Dipp era casado e deixa três filhos.

Durante a sessão do Conselho Nacional de Justiça realizada nesta terça-feira, a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), lamentou a morte de Dipp.

— Estou em tristeza imensa porque acabei de ter a notícia do falecimento do meu querido amigo, ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça Gilson Dipp. É com enorme pesar que faço esse registro do falecimento do ministro nesta segunda-feira, dia 28 — afirmou Rosa.

A ministra destacou as audiências públicas promovidas pela Corregedoria Nacional na gestão de Dipp, em 15 estados brasileiros, para ouvir a população sobre o funcionamento do Poder Judiciário.

— Foi aqui, nessa casa de gestão e aggiornamento (atualização) do imenso aparato jurisdicional brasileiro, que o tirocínio político de Dipp encontrou espaço para mobilizar inteligências e atitudes em direção a um Judiciário consentâneo com os reclamos de celeridade, estabilidade decisional, integridade moral e bom uso dos recursos públicos. As instituições são impessoais, mas são pessoas que fazem as instituições — disse a presidente do STF.

Em nota, o decano do STF, ministro Gilmar Mendes, também registrou pesar pela morte do "grande magistrado, professor e advogado".

"Dipp colecionou inúmeras conquistas em sua longa e exemplar trajetória, a exemplo da sua atuação como um dos maiores Corregedores do CNJ. Meus sentimentos aos familiares e amigos", escreveu o ministro.


Fonte: O GLOBO