Tensão maior no Leste Europeu reflete no fornecimento de energia para a Europa e no preço do petróleo, além de levar os ucranianos à busca de empréstimos e aumentar a aversão a risco dos investidores no mundo
Porto Velho, RO - A guerra entre Rússia e Ucrânia se intensificou nas últimas semanas, com novos ataques aéreos, explosões e acusações de crimes de guerra dos dois lados. O aumento da tensão reflete diretamente em temores por parte do mercado, que age com cautela em razão de dependências energéticas da Europa com os russos, de investidas mais intensas contra países do Ocidente e por conta das ameaças nucleares.
Um dos pontos que os países têm focado recentemente é a destruição da infraestrutura do inimigo. A ponte que liga a Crimeia à Rússia foi destruída no início do mês, o que levou a retaliações por parte de Moscou.
A Rússia também destruiu 30% das usinas de energia e água da Ucrânia, segundo o presidente Volodymyr Zelensky. Mas foi o repentino rompimento dos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2, as maiores rotas para o gás russo para a Europa, que preocuparam o Ocidente.
Uma investigação preliminar de danos indicou que as danificações ocorreram por conta de “explosões poderosas”, mas o Kremlin nega ter sido o autor dos vazamentos e disse que as investigações foram montadas com a intenção de culpar falsamente a Rússia. Seja como for, fato é que os europeus vão enfrentar um inverno em meio às retaliações russas de corte de energia.
“A Rússia teve as relações econômicas cortadas com os países da Europa, e devido ao que já foi feito acho difícil essa relação voltar nas próximas décadas. Mas a Europa vai conseguir enfrentar relativamente bem esse inverno, conseguiu se precaver a tempo e acumular energia o suficiente”, disse Roberto Attuch, CEO e fundador da OHM Research.
Segundo ele, o fornecimento de gás aos europeus é mais preocupante a partir do próximo inverno, em 2023. A participação da Rússia nas importações de gás natural do bloco caiu de 36% em outubro passado para apenas 9% um ano depois, mostram dados da empresa de pesquisa Wood Mackenzie.
Para Leonardo Trevisan, professor de geoeconomia internacional da ESPM, os impactos do alongamento da guerra fazem parte da estratégia de Vladimir Putin, que arrasta o conflito até um ponto no qual a Europa passa a encarar a realidade de não poder contar com as importações russas.
“Os impactos no mercado internacional vão acontecer com a distância da mesa de negociações. Isso porque conforme o inverno europeu se aproxima, o preço da energia não vai ter nenhuma atenuação. Os países conseguiram gás suficiente para manter as casas iluminadas e aquecidas, mas não é possível abastecer a indústria na conjuntura atual”, destacou.
Em meio às relações cada vez mais estremecidas, o professor acrescentou que até o próximo inverno os países europeus devem buscar soluções para conseguirem abastecer sua indústria.
“Manter as residências plenamente em ordem não significa recuperar o gás necessário para a indústria. E com as restrições por conta guerra o gás pode chegar a preços estratosféricos, o que automaticamente impede que essas fortes indústrias europeias, como a alemã, britânica e francesa, consigam ser minimamente competitivas”, argumentou.
Fonte: CNN Brasil
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